terça-feira, 16 de abril de 2013

Bonitinha, mas reacionária


Então você está aí, bem grávida, bem ficando redondinha, bem com uma carinha que brilha mais que o sol por conta do aumento do fluxo sanguíneo. Fofa. Explodindo em aura maternal e distribuindo magia por onde passa. É não, gente. Aliás, é também. TAMBÉM. Porque há algo de podre no reino das combinações hormonais gravídicas que te deixam um bocado demoníaca às vezes. Falo por experiência própria e de colegues por aí que passaram pelo mesmo.

Não quero mais tirar foto porque decidi ficar #chatiada neste momento
e vou me comportar com maturidade



Para mim, o primeiro trimestre foi uma TPM eterna. Fui ficando inchada, as feições foram mudando notoriamente, e era um sonoooo, e era um enjoo, e era um xixi eterno, e era uma irritação convertida 30 segundos depois para um choro. Fiquei mais fazendo a linha ofendida, não aceitando piadas, não entendendo as brincadeiras, como no dia da famosa “confusão do lixo” cá em casa.

Estava eu de férias do mestrado, querendo apenas vegetar no sofá o dia inteiro, na frente da TV, enrolada em uns 3 cobertores. Nessa, acabei negligenciando algumas atividades ~~domésticas~~, que eram naturalmente partilhadas, mas como eu estava por aqui all day long, mais naturalmente ainda que fizesse o mínimo. Eis que um dia chega o José do trabalho, tudo bem tudo normal, até ver 57 sacos de lixo amontoados na cozinha. Claro que ele esperou o momento mágico do jantar pra dar aquela cutucada, algo do gênero “essa madame morta de preguiça que não cria coragem nem pra descer as escadas e colocar o lixo fora”. Em situações normais, eu entenderia o humor dele. Porque sim, foi com humor e eu já estava acostumada. ESTAVA, menines. Sabem aquele ódio mortal que começa na boca do estômago e vai subindo e deixa a sua cara toda quente e seu coraçãozinho cheio de rancor? Foi bem isso que eu senti na hora. Porém, não disse uma palavra enquanto forçava o resto da comida a descer pela garganta. Acabei, levantei da mesa, pus o casaco e fui fazer o quê? Colocar o lixo fora como se não houvesse amanhã, claro. Aquele apartamento estava pequeno demais para a minha raiva. Enquanto descia as escadas e fazia o penoso trajeto de 30 metros até o coletor, pensava mega revoltada “como ele teve o DESCARAMENTO de me chamar de preguiçosa?” (sendo que todo mundo sabe que eu sou mesmo desde antes, bem antes da gravidez), “então ele não sabe que estou gerando uma vida aqui dentro e que isso dá um imenso trabalho?”, “estou MUITO zangada. Olha aqui como eu bato os pés de raiva subindo essa escada”. 10% mais calma depois do meu ~~passeio~~, entrei direto para o quarto deixando clara a minha insatisfação. A essa altura, o outro já tinha percebido a raivinha e foi lá ter para por os panos quentes. Ainda teve que aguentar um “não é fácil ter uma fábrica de bebês funcionando aqui dentro, TÁ?”, mas manteve-se firme e amoroso encerrando o episódio dramático com a verdade “amor, gravidez não é doença”.

O José, coitado, que nem pode mais fazer a pose que quer sem ser tolhido


De lá pra cá, dei uma “melhorada”. O fim do primeiro trimestre também foi importante porque a gravidez vai evoluindo e vai-se ganhando uma confiança maior, vai-se entendendo os limites. Obviamente que os hormônios ainda estão ensandecidos e fazendo uma festa eterna no seu corpinho. Ainda tenho umas crises existenciais do tipo “será que to fazendo isso certo?”, “será que vai abrir um mar de estrias no meu corpo?” (passando creme e digitando just in case), “23 anos e sua mãe não ganhou o primeiro milhão, meu filho. Perdoa” e aí eu choro pra Meg, nossa cadela, porque tenho que manter meu orgulho.

Agora entrei numa fase de “overreacting”. Em outras palavras, ou 8 ou 80. Tipo quando minha série favorita da RTP não começa na hora que era suposto e eu fico realmente alterada. Ou quando a Meg tem um ataque de loucura e eu grito pro prédio inteiro ouvir (não adianta nada, aliás). Ou quando fico de mau humor o dia inteiro porque estão aparecendo pelos e espinhas indevidos.

Aí vocês pensam: nossa, filhinha, tá puxado, hein? Tá, gente. Aliás, não. Escritinho assim parece um inferno, mas não tem drama que resista a esse bebê que começou a mexer vigorosamente, a essa cadela disparatada e a um homem que fica #chatiado se eu não chamo quando tenho que correr pro banheiro em meio a um ataque de enjoo (Já perguntei o porquê dessa raivinha e ele disse que queria estar lá passando a mão nas minhas costas para eu me sentir melhor <3).

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