segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O último mimimi de 2013

A esta altura, em 2012, eu estava decidindo de que cor pintar as unhas e fazendo minha tradicional faxina de fim de ano (ou parte dela). A esta altura, em 2012, eu estava enchendo os cantos da casa de sal grosso e separando as roupas que não mais usava. A esta altura, em 2012, eu aguardava ansiosa para adotar um cão (fizemos um acordo de que ele viria em janeiro). A esta altura, em 2012, eu estava grávida e sabia que sim, mas achava que não. Nas primeiras horas do dia 1º, preparava-me para dormir. Troquei de roupa em frente  ao espelho. 

- Amor, olha a minha barriga! Olha pra isso!
- Ihhh! Tá grávida mesmo!
- Rum...rum hum...

E deitamos rindo os dois, achando graça, mas sabendo. Sim, sabendo. Oito dias depois a Meg chegou. A 15 de janeiro, o Beta confirmava que a Malu também estava a caminho.

Este ano, a esta altura, não tive tempo de fazer a faxina de fim de ano, não posso por sal grosso porque a Meg tem apetite para esse tipo de coisa. Estou aqui sentada no tapete, ainda de pijama, com uma bebê obcecada pelas próprias mãos e sons que aprendeu a fazer. A cadela...bem, a cadela acabou de destruir a bola que ganhou de Natal.

Sou muito sensível ao fim do ano, mais do que ao Natal. Foi quase sempre assim. Gosto daquele friozinho na barriga que precede o novo, daquela contagem regressiva em que todo mundo para. Não dá mais tempo fazer o que se queria, então vamos apenas parar e ver o novo ano chegar. Eu fico nervosa, rio nervoso, faço todas as simpatias, distribuo todos os abraços e sou suficientemente ingênua para acreditar que vai ser melhor, que vou fazer diferente. Ainda canto a melodia que a minha vó entoava em todos os reveillóns que passei na casa dela: "Adeus, ano velho! Feliz ano novo! Que tudo se realize no ano que vai nascer...". Posso até dizer que cresci, mas continuo depositando todas as fichas no que está por vir. As mesmas fichas que eu depositava quando beber Cidra Cereser em um copo de plástico era a maior das minhas transgressões.

Entre o positivo e essa tarde chuvosa ainda de pijama no tapete, aprendi que nem tudo é sobre mim, nem tudo é sobre o que vou vestir na passagem do ano. Aprendi que o amor não é preguiçoso. Ele depende da sua dedicação, do seu cuidado, do seu colo, do seu peito. Ele vai te chamar às 4h da manhã e nem sempre é fome, nem sempre é fralda suja. Pode ser só saudade. Ele não vai fazer questão que você tenha lavado o cabelo. Vai demorar 4 horas para pegar no sono e acordar 20 minutos depois. Finalmente, ele vai rir quando te apetece chorar e você vai rir também. Pode parecer sadismo, mas aprendi que amar dói. Dói porque significa sair da zona de conforto. É a zona de confronto. Amar é o todo dia mesmo quando não te apetece sair da cama.

O que 2013 me trouxe vai durar bem mais que seus 365 dias. Passei os dedos pelo teclado imensas vezes tentando não fazer soar demasiado clichê, mas é mesmo isso: nasci e fiz nascer. Nasceu minha filha e eu nasci mãe. Nasci porque assim como ela aprende sobre suas mãos, eu descubro a melhor forma de fazê-la crescer feliz. 

Ontem eu achei em um bloquinho antigo a lista de coisas que eu tinha a fazer no dia que "conheci" o José  (um dia conto a vocês essa estória). Foi a única lista que lembro de ter cumprido até hoje. 11/11/11. Como não dizer que foi um reveillón? O que eu quero dizer é que venho reaprendendo a comemorar minhas passagens de ano. São agora passagens de dias. Como o reveillón do dia 31 de agosto. A contagem regressiva culminou às 18h38 com 3,630kg e 50cm de ano novo.

Não vou me alongar muito mais, até porque começo a não fazer sentido querendo fazer. Mas vale salutar também que, nascendo Malu e nascendo eu, nasceu o blog. Nasceram vocês para mim. Nasceram histórias para acompanhar. Nasceram laços. Nasceu a Nana tentante que gestou a gestação e agora tem um biscoito no forno. Nasceu a Marina cheia de força, cheia de graça, cheia de um novo bebê. As duas primeiras pessoas com quem entrei em contato na "blogosfera materna" costuram esse ano no próximo. E que venha a maternagem, que venha!

Espero não esperar muita coisa de 2014. Espero que a Malu siga bem com seus picos de crescimento, saltos de desenvolvimento e curiosidade pelo mundo que a cerca. Que o José continue encantado com as coisas que ela aprende do dia para o dia. Que a Meg tente manter seus brinquedos intactos por pelo menos 24 horas. 

Que 2000 e catarse, amigos. Catarse.

Até para o ano!


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A polêmica do sono com/pós-bebê

Você, amiga grávida, provavelmente ouviu e ouvirá centenas de vezes a ladainha "Olha, aproveita pra dormir agora porque depois que o bebê nascer vai ser difícil!". Ai, o sadismo da sociedade...Gente, parem com essa. Apenas parem. Primeiro que a grávida não precisa que vocês aconselhem-na a dormir porque ela vai dormir. Ah, vai. Vai dormir em qualquer canto que der para se encostar minimamente. E segundo que nem todo sono do mundo dormido antes do bebê vai aplacar o sono que vier depois. É estúpido e particularmente enche o saco. Quer falar uma coisa útil para a gestante? "Que o seu bebê venha cheio de saúde". Problema resolvido.

Mas vamos pegar aqui esse assunto do sono e esmiuçar. Vamos entrar a fundo na coisa porque rende.

Quando seu lindo bebezico chega em casa, é um enternecimento sem fim. Uma excitação pelo começo da nova vida, um arroubo de felicidade pela nova família que se forma. Ele é lindo, um amor. Chora baixinho, faz uns barulhinhos. É aquilo que meu avô chamaria de "come-e-dorme". Então, em alguns dias, algo acontece. O toquinho de gente se recusa a dormir à noite. Dá lá seus cochilinhos que variam entre 10 e 30 minutos. Você põe pra arrotar e ele desperta. Começa então o show da madrugada. Aqui em casa foi bem assim. Como cada bebê é um bebê, existem aqueles que vieram de fábrica com um padrão de sono todo ajustado. Não quero papo com os pais destas criaturinhas. Dirijo-me apenas aos companheiros que sabem o que são umas várias noites mal dormidas. Quero distribuir a vocês o meu afeto insone. "Vai passar".

A Malu, lá pelos seus 15 dias, entrou em crise com a noite. Durante o dia, dormia que nem um urso hibernando. À noite...tsc tsc...Eram 2 horas de embalo para cada 10 minutos ou 1 hora de peito para 5 minutos de sono profundo. O pai indo trabalhar na manhã seguinte todo desconjuntado, a mãe com uma cara zombie o dia inteiro e a cadela achando que tudo era festa por ter gente andando pela casa na madrugada. A situação caótica durou quase um mês. Todo dia o José chegava do trabalho com uma estória diferente: "A senhora do café disse que a filha dele foi assim até os 5 meses. 5 MESES!" ou "O motorista do despachante disse que o filho dele era igual e logo passou". Não sei bem como, quando ou por que, mas um dia, ela dormiu 5 horas seguidas. DO NADA. Imaginem um alguém que não dormia há muito acordando no susto e se sentindo estranhamente descansada. 

- Que foi, amor?
- São 4h30! Ela tá dormindo! 4h30 e ela tá dormindo!
- Deixa! Apaga esse celular! Dorme!



Demorei umas noites para me acostumar. Acordava pra checar a respiração. Ficava na dúvida se ela precisava comer, se devia lhe trocar a fralda. Pra mim, continuou sendo conturbado porque eu dormia esperando que ela acordasse, o que era quase a mesma coisa de não dormir. Com o tempo, ficamos ajustadas.

Mas então, Naruna, como isso aconteceu? Não teve mágica, não teve fórmula. Creio eu que foi tudo processo. Os bebês nascem sem saber diferenciar o dia da noite. Na Malu, essa dificuldade era desesperadoramente verificável. Então, fui investindo nos contrastes: janelas abertas de dia, todos os barulhos normais da casa, semi-luzes à noite e um tentativa de ambiente mais silencioso. Depois, adotei a rotina do sono: quarto, banho, pijama e maminha. Durante umas santas noitinhas, ainda rolou um embalamento depois de mamar que demorava hooooras a fio. Também tentei mama + deitar do lado e fazer carinho. Aqui, ela resmungava, chorava, quase dormia e despertava de novo até dormir mesmo. Fui ajustando tudo e então chegamos à rotina final, que vai vigorando. Começa por volta das 20h30 com papai preparando o banho e acaba ali pelas 23h depois de mamar entre 1h30 e 2h, depende do humor dela. Sim, ela dorme mamando , apesar das indicações de ~~especialistas~~ que não devemos fazê-lo porque blábláblá. Creio eu que uma certa maturidade da parte dela também influenciou. As fraldas da noite agora são só de xixi. 

Como uma boa bebê de peito, ela acorda pra mamar. Absolutamente expectável. Como uma boa pessoa pequena, têm noites que dorme melhor, têm noites que dorme melhor. Pode acordar a cada 3 horas, como dormir 8 horas seguidas. Como boa Brito Vieira Lourenço da Silva, ela ronca e "fala dormindo". Normal.

Sono da noite estabilizado. Foram todos felizes para sempre.



Porém não.


Vamos aqui no auge da crise dos 3 meses. Uma mamação sem fim e problemas de sono. De novo e mais uma vez. Mas agora as sonecas diurnas estão atribuladas. A pessoinha luta contra o sono horas a fio, fica mal humorada, chora, não se consegue acalmar. Não quer ficar parada no colo, não quer ser embalada, não quer mais mamar, se contorce toda. Um filminho de terror. 

Estivemos aqui sofrendo uns dias até que (música de suspense) decidi apelar para os poderes do sling. Tenho um de argolas, mas a Malu tem achado desconfortável e, vá lá, 7kg num ombro só é dose. Venho dizendo que vou comprar o tecido pra fazer o wrap, mas até agora nada. Já tinha ouvido falar que é possível fazer um de camisetas velhas, então fui atrás. Estudei, vi os vídeos, tudo direitinho e hoje pus em prática.

Minha gente...MINHA GENTE! M-I-N-H-A G-E-N-T-E! Foi mágico, espetacular, magnífico, sensacionalmente lindo! Ela chorou chorandinho de sono enquanto eu a colocava, ajeitei a cabecinha aqui no meu peito, fui andando pela casa fazendo o bom e velho shhhhh (quem nunca?) e em lindos 2 minutos ela dormiu. Assim, simples: dormiu. 1 horinha de soneca, repetida por mais duas vezes ao longo do dia. Fora que o humor ficou 100% melhor. Estou me sentindo uma vitoriosa, uma mulher de valores. QUERO VER QUEM MANDA NESSA BODEGA DE CRISE AQUI! 



Os links para quem tá naquele dia difícil e precisa de um wrap pra djá: 
http://www.youtube.com/watch?v=AoWd3A-dCak - amarração que eu uso com a Malu

Como estou de bom humor hoje e feeling like simpática, vou deixar umas ~~dicas~~ para quem tá naquele momento difícil com o sono (o próprio e o do bebê):

- A rotina antes de dormir à noite ajuda o pequeno a assimilar e conseguir prever o que está por vir. Ele se sente mais seguro assim.

- A minha rotina será sempre diferente da sua. Lembre que os bebês não são iguais. O que faz um se sentir confortável, como o banho, pode deixar o outro mais ativo e não funcionar tão bem.

- Importante pedir a colaboração dos outros moradores da casa e das visitas no respeito à essa rotina. Quem vier aqui sabe que eu recolho a Malu sempre no mesmo horário, sempre. O José sabe que é hora de baixar o volume da tevê e falar baixo (o que nem sempre acontece quando tem jogo do Porto. Deus nos abençoe...). Até a Meg se enterra no sofá e de lá não sai mais.

- A menos que seu filho esteja com problema de peso e tenha menos de um mês, NÃO O ACORDE PARA COMER. Nunca. Algumas mães não acordam nem antes de um mês, mas eu tinha medo da hipoglicemia. Se o bebê tá saudável e dormindo de boa é porque ele não tem fome. Deixe ele quieto.

- Não tenha medo da cama compartilhada. Esqueci de mencionar isso lá atrás, mas a Malu nunca aceitou a alcofa, então colocamos na nossa cama mesmo, com os devidos cuidados. O bebê deve dormir entre a mãe e a parede (ou uma grade) e não entre a mãe e o pai. O pai, por mais fofo que seja, não tem uma ligação fisiológica com o bebê. Pode rolar pra cima dele ou magoá-lo durante o sono, mesmo sem intenção. 

- Não acredite naquela história de "ai, não dormir durante o dia é bom. Fica cansado e dorme melhor à noite". Isso não funciona com o bebê. Ele acaba por ficar tão cansado que nem consegue adormecer. Procurem "efeito vulcão do sono" no Google e chorem comigo.

- Sieze the day. Aliás, the night. Durmam a noite de hoje sem pensar na de amanhã. Eventualmente, o bebê vai ter noites melhores e noites melhores. Vai dar um dia mais trabalho pra dormir, outro menos. Pode dormir a noite inteira com 2 meses e depois acordar a cada duas horas aos 11. Raramente o padrão de sono é definitivo no primeiro ano de vida.

- Não tem magia e nem método infalível. É tudo processo.


E agora...sabem que horas são? Quase 20h30 aqui. Partiu, rotina!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

100 dias

Daí que ontem, redondamente ontem, completamos 100 dias de maternagem, paternagem e filharagem. 100 dias (des)construindo uma imagem, passando valores, recebendo lições, revendo conceitos, aprendendo, errando, reaprendendo e errando mais uma vez para tentar acertar adiante. O certo é que estamos aqui, lindos e loiros   saudáveis prontos (ou nem por isso) para a próxima fase.



Dizem que tal como ocorre na gravidez, o desenvolvimento dos bebês fora da barriga é dividido por trimestres. Levando em conta essa teoria, fechamos o primeiro. O intenso primeiro. Não que eu ache que os outros serão mais tranquilos, mas o primeiro é sempre o primeiro. Tem aquele sabor de primeiro, aquele frio na barriga, aquele "Não sei o que é isso. Pare o mundo que eu quero descer" e o natural "Será que é normal?". Seja lá o que vier pela frente, 3 meses foi um bom período para desenvolver minha autoconfiança. A primeira vez que tivemos de sair com a Malu foi absolutamente assustadora. Ela tinha 4 dias, fazia um calor e depois começou a ventar loucamente. Eu tinha os pontos ainda e muito medo de tudo. De andar rápido e o carrinho sacolejar demais, da poluição, dos carros, dos tambores de lixo, dos vírus que as outras pessoas carregavam. Esqueci os documentos que deveria ter levado. Foi estressante e achei que nunca fosse dar conta de fazer aquilo de novo. Fiquei tão freak que chegamos em casa e fui logo dar banho nela. O José dizia que eu precisava relaxar. E eu relaxei. Fui relaxando. Aprendi a me preparar para sair com ela, a verificar infinitas vezes se coloquei tudo na bolsa, a escolher a roupa no dia anterior e confirmar os horários. Faço-o muitas vezes sozinha, inclusive. Aí a Super Naruna entra em ação carregando bolsa, cadeirinha, bebê eventualmente fora da cadeirinha e alguma manta aleatória. O celular sempre toca nesse momento crítico. SEMPRE. Nesse meio tempo, já tivemos que sair com ela para resolver burocracias, médico ou simplesmente dar uma volta porque eu amo estar em casa, minha gente, mas tenho meus limites. Estive tanto tempo trancafiada com meu medo besta que reformaram uma rua inteirinha na Baixa e eu nem tinha me dado conta. Para mim, o reaprender a sair de casa foi um obstáculo pessoal que vem sendo vencido, sem muitos abusos, claramente.

Em 3 meses, há que também passar a entender os sinais do bebê. Com umas 2 semanas de Malu, o José me perguntou se eu já sabia identificar os motivos dos choros e eu respondi receosíssima que ainda não. Sério que eu queria ser a mega tradutora de choradeira aos 15 dias? Até hoje não tenho muita certeza do que cada um significa. Recorro mesmo à checklist: fome? fralda suja? mimo? tédio? O único infalível e inconfundível é o do sono. Essa minha filhota tem uma relação muito objetiva com o sono dela. Se atrasarmos o ritual da noite, ela embirra totalmente. Chora até seu problema ser plenamente resolvido, leia-se banho, pijama e mama até cair pro lado. As sonecas do dia, se não forem respeitadas, é um deus-nos-acuda. Ela começa logo com um nhaaaaaaaim. Esse nhaaaaim quer dizer "me ponha pra dormir agora ou eu vou começar a gritar infinitamente".

Fora os clássicos, no geral, a Malu chora muito pouco. Muito pouco mesmo. Há dias em que ela sequer chora. Só resmunga e eu já descubro logo o motivo. Mas se você for médico, enfermeira ou alguém estranho, be careful. É melhor se aproximar com muito cuidadinho, sem vozinha cheia de frescura ou ela abre logo o berreiro. Isso vale também para troca de roupa. Devia ser proibido bebês viverem no inverno. Calculem um acidente de cocô onde é preciso trocar body, meias, blusa, calça e casaco sob a amena temperatura de 5ºC. Ninguém curte, né? Mesmo chorando muito pouco a meu ver, as pessoas adoram me perguntar se ela não usa chupeta. Não, minha gente, ela não usa. Vou fazer um mea culpa aqui e dizer que cheguei a oferecer. Num dia particularmente difícil, ali por volta do 1 mês e meio, cedi às pressões da sociedade e resultado? Ela abomina. Olha e já começa logo a tossir, chora ainda mais e faz caretas. A chupeta existiu cá em casa por umas 3 semanas, até que a Meg comeu-a. Qué dizê, morreu menina chupeta. Agora só chupeito mesmo e tem funcionado.

Falando em peito, foram e têm sido 100 dias de muito. Livre demanda demandando, mandando e desmandando. São 7kg e 61 cm aí provando que leite fraco é a pqp. Isso tudo tem me rendido muitos elogios onde quer que vá. No hospital que a Malu ficou internada, virei tipo celebridade da amamentação. Ninguém acreditava que essas dobrinhas todas provém só da mama. Os pediatras andaram até discutindo o caso no café (???). Bate aquele orgulhinho de si e da cria, mas chego a ficar triste também por algo tão natural causar tanta surpresa. Durante a internação, só conheci mais uma mãe que amamentava, e olha que passei por várias. Aí que com a livre demanda, eu nunca sei que horas a Malu come, por quanto tempo e qual o intervalo entre as mamadas. Os enfermeiros não entendiam isso. Aí que com a livre demanda, perdi a vergonha de fazê-lo em público. E não coloco mais fraldinha por cima não. Vocês curtem comer com um pano na cara? Por que é que a Malu curtiria? Aí que já fui gentilmente censurada por isso. Disseram que eu deveria me "preservar". OH REALLY? A amamentação, se em público, tem uma carga tão sexual que dá o que pensar. Ando sinceramente até pensando em rever o tema da minha tese no mestrado.

Em 100 dias, teve pico de crescimento, salto de desenvolvimento, roupa ganha, roupa perdida, sorriso pra dar e vender, baaaaaaaaaaaba, muita baba, dedinhos curiosos apertando a nossa cara, a nossa roupa, os brinquedos, um converseiro danado (agu, abu, uh uh, aaahh, ehhhh, aaaaai, nhãe e coisas afins), uma afinidade com a Meg (prevejo puxação de rabo para breve. anotem.).

Eu (antes de ter um) achava que os bebês só tinham graça quando ficavam maiores, já sentando e tudo. Mas eu me divirto com a Malu todo santo dia. Ela respira e eu gargalho que nem uma abestada. Dizem que isso é amor. Deve ser um amor parecido com o que vejo nos olhos do José quando ele olha para ela. Sabem, é bonito amar, mas ver o amor nos outros é lírico, uma coisa meio idílica.

E eu nesses 100 dias? Eu definitivamente mudei e continuo sendo a mesma. Eu tenho impulsos de super mãe, super mulher, mas sei que não sou uma coisa nem outra, sigo fazendo o melhor. Eu já tive muita vontade de voltar a trabalhar e engoli o choro durante uns dias. Ainda tenho vontade, ainda tenho saudade, mas cada coisa a seu tempo. Tenho uma fome de me deixar com os nervos a flor da pele e quilos de cabelo começaram a cair (alou, prolactina!). Tenho ups e downs com o meu corpo. O peso é o mesmo, mas as curvas e formas são outras. Isso me deixa aflita às vezes. Penso todo dia que vou pintar as unhas assim que ela dormir. Apenas penso. Tornei-me uma criatura quase monotemática. Quase. Tenho ímpetos de fúria ao ver as pessoas na rua olhando para o meu lindo e redondo bebê (???). Sério, fico meio possessa achando que elas estão transmitindo más energias. Nóias. Tornei-me uma leitora lenta. Ganhei uns vícios estranhos tipo checar o nariz dela a cada meia hora, tal como analisar o conteúdo da fralda minuciosamente pra ver se tá tudo ok e deixar ela me babar a cara. O José acha essa parte particularmente nojinho. 



Apesar de costumeiramente buscar segurança, sempre tive um apego também com o futuro. Sempre achei que amanhã vai ser melhor e que os problemas vão se resolver magicamente e plim!, that's all, folks. Relendo esse texto e fazendo um backup expresso desses meses, noto que a primeira grande lição, habilidade ou seja lá o que for que a maternagem me trouxe foi apego ao presente, aos 30 minutos de sono e depois não sei. Atualmente eu tenho uma séria dificuldade em mentalizar que dia da semana é hoje, qual a data. Fica tudo num plano meio paralelo. O conceito de tempo meio distorcido. No meu calendário válido só tem uma marcação: agora. Daqui a 100 dias, quando for agora outra vez, a gente conversa mais sobre essa coisa de quanto tempo o tempo tem.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Da impotência ou Quando um filho fica doente

Nenhum(a) leitura/pitaco/dica/conselho poderia preparar-me para ver meu bebê doente. Nenhuma. Nada. Ninguém. No auge da confusão, eu só conseguia pensar de onde os pais tiram tanta força para tomar decisões acertadas em um momento como aquele. Não há dor no mundo como aquela, não há maior entrega do que querer a dor do pequeno toda para si.

Ia tudo supermegablaster bem, fora o frio de rachar que vem fazendo e o fato de eu ter ficado de cama uns 2 dias na semana passada.  Usei máscara ao cuidar da Malu, amamentar e tudo. Passou-se um dia, melhorei e ela parecia okzinha também. Alívio. No dois dias a seguir, ela andou enjoadinha, reclamona, chorosa, mas mamando bem e evacuando normalmente. Pensei que era a crise dos 3 meses já à porta. Até que numa troca de fralda, decidi por o termômetro só por curiosidade. A temperatura só subia, loucamente, descontroladamente, tal qual uma sensação de pânico na boca do meu estômago. 38,8ºC. Fiquei cega, agarrei-a como se o abraço espantasse a febre. Uma hora depois, o José já tinha vindo do trabalho a correr e estávamos a caminho do centro de saúde. A nossa médica de família não estava. Ela foi vista por uma outra. Uma senhora absolutamente fria, "objetiva", que disse ser uma" infecçãozita", que não via caso pra se preocupar e era só dar-lhe paracetamol quando a febre subisse. Voltamos pra casa, mas não consegui ficar absolutamente tranquila. Maluzinha não fazia seu "agu uh uh" de sempre, não festejou no banho. 39,5ºC. A febre não cedia. Coloquei-a pra dormir tentando acreditar que o medicamento faria efeito.



3h10 da manhã. Malu gemia, os movimentos eram lentos. 40,4ºC. Aqui veio o desespero. Desespero com todas as letras. Previ uma convulsão, que felizmente não veio. Demos-lhe um banho pra baixar a febre e corremos pras urgências. Então. começou uma saga. Só um dos pais podia acompanhá-la. O José ficou na recepção gelada enquanto eu carregava-a angustiada pra cima e pra baixo. Tomou antitérmico via supositório, foi alscutada n vezes, fez nebulizações, tiraram-lhe sangue do braço, dos pés, foi aspirada, eu tinha de evitar pegá-la ao colo pra ver se a temperatura descia, mais antitérmico, usou sonda pra colher xixi. Ela já tinha sido tão massacrada, que chorava desesperadamente só de ver alguém se aproximar. Eu só chorava. Não lembrava de comer, de beber água ou ir ao banheiro. Já às 15h, o José pode entrar por uns minutos. Foi quando eu "almocei". Ele levou mais fraldas, mais bodies. A febre ainda lá e não nos davam certeza do que ela tinha. Perto das 22h, disseram que ela precisava ser transferida para outro hospital. Eu não tinha dormido, comido direito ou tomado banho, e, naquela altura, as palavras soaram como uma sentença negativa. Pensei que o caso era tão grave que ela ia precisar de cuidados especiais. O José veio de novo. Chorei copiosamente, tinha as ideias todas atrapalhadas. Ele então parou uma enfermeira e pediu que ela nos explicasse exatamente o que estava acontecendo. A Malu, afinal, tinha uma bronqueolite aguda e precisava de um internamento de acompanhamento. Estávamos ainda nas urgências e eles não tinham equipe para acompanhá-la, por isso a transferência.

Às 23h, chegamos de ambulância ao Pedro Hispano. O médico mais cool que eu já vi na vida atendeu-nos a tranqulizou. Realmente era uma bronqueolite, uma espécie de gripe forte em nós adultos. Os pulmões dela estavam mega congestionados, o nariz entupido. Ainda tinha uma suspeita de infecção urinária. Estranhamente, por mais que os nomes pareçam assustadores, foi aqui que fiquei calma. Senti que tudo ia ficar bem. A Malu recebeu o tratamento mais humanizado que poderia ter tido. Cada médico e cada enfermeiro que por ela passou foi impecável, diferente da experiência nas urgências. Foram sempre cuidadosos, conversavam com ela, não a incomodavam se estivesse dormindo. No dia a seguir, apresentou melhora e assim seguiu até a alta, na tarde de ontem, uma vez que a suspeita de infecção urinária foi despistada. Como mãe, estive lá sempre. Não deixei de amamentar por nada, fazia-lhe as nebulizações necessárias, media-lhe a temperatura. O nosso protagonismo de pais foi sempre respeitado e, deus, como eu agradeço por isso. 

A princípio, senti-me extremamente falhada, impotente. Como o meu carinho não fazia a febre dela ir embora? Como o meu leite não foi capaz de protegê-la da doença? Poder tratá-la durante o internamento deu-me confiança. Recobrei a minha capacidade de acreditar que posso sempre ajudá-la do meu jeito. E o José ajudar-nos porque sabe-se lá o que teria sido sem ele ali. Tanto que a alta veio na véspera do aniversário dele. Nada é mesmo por acaso.

Esse relato me é tão caro quanto o do parto. Tive de exorcizar esse medo todo que fechou o primeiro trimestre de vida dela e de "revida" nossa. A fofinha completou seus 3 meses com um catéter no braço, mas infinitamente mais pronta pro que virá. 

E ontem, de volta a casa, ao deitarmos todos juntos, vi que atravessamos mais um rito, para o qual não estávamos prontos, mas que fez-se necessário. Na próxima, mamãe pode até chorar menos, mas vai sempre querer ter a dor ao invés da filhota dela.