terça-feira, 28 de abril de 2015

Feliz Dia da(s) Mãe(s) para quem?

Maio está à porta e, com ele, começam as enxurradas de "homenagens" pelo Dia da Mãe, no primeiro domingo do mês em Portugal, e Dia das Mães, uma semana depois no Brasil. Ou seja, já lá vêm duas semanas cheias de palavras afetuosas, publicidades que apelam para a emoção e deixam- nos a transpirar, suspirar de amor. Ninguém me perguntou, mas resumindo: é uma treta desgraçada e, como mãe, estou cada dia mais convencida disso.

Li as notícias hoje e tive vontade de voltar para cama, ficar lá em posição fetal. As mulheres portuguesas trabalham quatro vezes mais em atividades domésticas do que os homens e isso inclui prestar assistência aos filhos. Apenas 77 minutos do dia deles é dedicado a isso, enquanto o delas...bem, façam as contas. Não vi os dados brasileiros, mas não é surpresa se o quadro for bem mais díspar. Fora todas as outras problematizações, o que há de errado nesses números? Por que quatro vezes mais elas? Alguém diz "ah, porque se calhar os homens trabalham fora". Sim, existem inúmeros casos, tantos quanto o de mulheres que vão ao trabalho e ainda fazem jornada dupla ou tripla em casa. A minha questão com essa deambulação toda é: onde está a divisão? "Ajudar" dá a ideia de que o outro faz aquilo em caráter esporádico, porque tem tempo livre, porque é afável. Nós mães, nós mulheres não queremos a porcaria de uma ajuda. Queremos divisão. Não somos incansáveis, não somos inatingíveis.

Andando mais um bocado pela timeline, li o relato de parto mais triste dos últimos tempos. O pior de tudo é saber que a Melissa não foi a única e nem será a última a passar por isso. É assim que nascem muitas mães e deixemos os debates sobre a via de nascimento porque aqui não interessa se foi normal ou cesariana. Muitos constrangimentos começam mesmo no pré-natal. Somos "mãezinha", "mamã", diminuídas, infantilizadas, tratadas como números no momento em que o empoderamento é fundamental. As estatísticas de violência obstétrica são assustadoras, mas pouco ainda se fala sobre elas. Quando levantamos um pouco a voz e tentamos ser ouvidas, tentamos desabafar, mandam-nos deixar de cenas. "Você e o bebê estão bem e é isso que importa". Temos de nos conformar, de nos calar. O pós parto é duro. A nova conjuntura aliada às baixas hormonais rendem-nos questionamentos, incertezas, lágrimas. Quando levantamos um pouco a voz e tentamos ser ouvidas, mandam-nos deixar de cenas. "Olha que bebê lindo você tem! É um bênção!". Temos de nos conformar, de nos calar. A verdade é que uma mãe não pode reclamar, não querem ouvi-la dizer algo além de "estou radiante".

Depois os dias seguem. Um pai solteiro que cria o filho é notícia, as mães na mesma condição são coitadas. Amamentar é o melhor para o bebê, mas só quando feito em local apropriado. A mãe que coloca a mama de fora na rua é uma exibicionista. E aquela mãe que não conseguiu amamentar? Que preguiçosa! Foi porque não tentou! A criança está aos berros na fila do supermercado. Será que não tem mãe que lhe dê educação? Mãe é sagrada. Mãe tem instinto que não falha nunca. Que péssima mãe você é se não sabe porque seu filho está chorando!

Ser mãe não é um sacrifício, não deveria. Querem que acreditemos que sim porque convém. Não é fácil de todo porque envolve criar, educar, amar, estar disponível e tudo isso custa. É um sacrifício, dizem, porque muitas vezes é também solitário. Ninguém padece no paraíso, não deveria padecer. Há sempre alguém que aponta o dedo quando erramos. Mas, uma vez, um dia por ano, somos celebradas. Ganhamos flores, presentes, abraços, somos levadas para comer fora e agradecem-nos pelas vidas que geramos. Nos outros 364, só podemos sorrir e acenar porque, ao fim e ao cabo, estamos todos bem. Será?

Agora pensem comigo: Feliz Dia da(s) Mãe(s) para quem?