quinta-feira, 24 de setembro de 2015

"Tudo certo como 2 e 2 são 5"

"Meu amor, tudo em volta está deserto.
Tudo certo"


De uns meses para cá, tem sido muito difícil assistir aos telejornais e ver algo bom sobre o mundo. Algo que nos faça ter vontade de seguir em frente. Dá um desânimo, uma tristeza. Ter perfis em redes sociais é basicamente ser bombardeado com o desenrolar do que vemos na televisão e mais a ignorância, o ódio, a incompreensão e o que há de pior em nós, nos outros. Fora disso, bem offline e do meu lado, estão aqueles por quem eu sigo e que fazem acreditar que, afinal, nem tudo está perdido.

Enquanto havia tanta coisa a desabar, a Malu completou 2 anos. Fez um dia de sol como queríamos e lá comemoramos do nosso jeito, meio torto. Para ela, foi mais do que suficiente e isso resume tudo. Essa pequena grande pessoa com quem temos o prazer de dividir os dias só tem 2 anos e já é capaz de tantas coisas. Há dias em que ela é capaz de dar mais do que podemos oferecer em troca. Há dias em que, sobretudo com culpa, esforçamo-nos para corresponder. Há dias em que um simples olhar dela faz-nos lembrar que as preocupações parvas podem ser deixadas de lado enquanto conversamos sobre o dia.


Enquanto havia tanta coisa a desabar, a Malu desmamou. Encerramos o nosso percurso com a amamentação de forma pacífica para ambos os lados. Um dia, ela simplesmente acordou e não pediu para mamar. Os dias seguintes foram iguais. Uma noite, ela simplesmente não pediu para mamar antes de dormir. Os dias seguintes foram iguais. Uma tarde, dormimos juntas e, ao invés de pedir para mamar como sempre fazia, deitou-se por cima do meu peito e foi só. Então eu chorei. Não pelo fim, mas pelo começo. A minha menina não mamava mais e mesmo assim era a minha menina. Trocamos olhares, carinhos, lemos juntas ou ficamos só quietinhas. Não perdemos algo que era só nosso, ganhamos mais ainda. Nunca pensei na amamentação como pertença, laço único e exclusivo entre mãe e filho e sabia que acabaria quando tivesse que ser, seja por que motivo fosse. Apenas fui apanhada de surpresa pela constatação do que eu já acreditava: eu e Malu fomos e somos mais do que a ligação que desenvolvemos durante o período da amamentação. 

Enquanto havia tanta coisa a desabar, eu engravidei. Estou em fase de fabricação de uma nova pessoa, com direito a todos os sintomas possíveis e imagináveis. E não deixo de achar paradoxal decidir trazer mais alguém para este mundo tão errado, tão errante. Talvez seja um bocado ilusório achar que esses seres venham para trazer algo de muito bom para nós e para mais alguém. Talvez seja, estupidamente, ainda ter esperança. Talvez seja, pensando apenas no micro, vontade de multiplicar as melhores coisas que temos feito em conjunto. O bebê2 já era por nós esperado, falado, especulado. E veio. E cá está. 

Enquanto ainda há tanta coisa a desabar, seremos 5. Eu, José, Malu, bebê2 e Meg.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Amor de mãe

Nós não somos obrigadas a amar os nossos filhos. Não nascemos para amá-los. São eles que nos amam desde sempre, incondicionalmente, e não o contrário. Nossas crias são feitas de nós, da mesma matéria, do mesmo material. Conhecem-nos a fundo, por dentro, cada pedaço, cada batida de coração. O som favorito deles até nascerem é um que não conhecemos: aquele que está por baixo da pele. Quando vêm cá para fora, para esse mundo desordenado, desordenador, é a nossa voz a melhor melodia, por mais fora de tom que seja, que esteja. 

Quando eu estava grávida, nunca amei o bebê que tinha na barriga. Amei a gravidez, a barriga, a preparação, a ideia, os movimentos e não me senti culpada por isso. Então a Malu nasceu. Não foi amor à primeira vista, como dizem. Lembro-me de pegá-la, recebê-la no meu peito e não saber o que era suposto dizer. "Oi, filha! Demorou, hein?" foi o que saiu. Não em tom de cobrança pelas 12 horas de trabalho de parto, mas em jeito de "não sei bem o que te dizer agora que acabamos de nos conhecer". Nos dois dias de internamento, estive quase sempre com ela ao colo para lá e para cá. Velava o sono. Tinha uns pés tão pequenos...

Fomos para casa e ainda não era amor. Eu sabia que tinha de protegê-la, não porque tinham me dito, mas porque sabia. Era quase selvagem. Pegavam ao colo e eu estava ali do lado, à espreita, pronta para responder se ela ao menos resmungasse. Se tinha de ir ao banheiro, colocava-a no carrinho e deixava-o mesmo bem à porta. Despachava-me apressada ainda que ela não tivesse reclamado o "abandono". A verdade é que continuava grávida sem estar. Tanta simbiose que, sim, continuávamos a ser um corpo só. Mas ainda não era amor.

Eu não lembro o dia, mas tinha a Malu pouco mais de um mês. Tinha pouco mais de um mês e riu para mim. E eu chorei, chorei, chorei. Ri e chorei mais um pouco. Nesse dia eu soube que era amor, soube reconhecê-lo. Talvez porque ela tenha me dado esse feedback, não sei, mas havia mais em mim que selvageria, mais do que vontade de abocanhá-la pelo pescoço e carregá-la para um lugar seguro, como fazem os felinos aos filhotes. 

Acredito que amor de mãe não nasce com o filho, cresce com ele e é atemporal. A data é indiferente. Esse tipo de relação é também construída. Temos de nos dar espaço e tranquilidade para construí-la. Eles conhecem-nos tão bem e, com o tempo, se nos permitirmos esse tempo, passamos também a conhecê-los. Os meios é que justificam os fins, apesar de os fins não aplicarem-se neste caso. Os fins são sempre começos, são sempre caminho.

Nós não somos obrigadas a amar os nossos filhos. Não nascemos para amá-los. Mas permitimo-nos amar e damos, além de carga genética, o que nem sabemos ter. 

terça-feira, 30 de junho de 2015

"Só eu vejo o mundo com meus olhos"

Do alto dos seus quase 22 meses (whaaaaaaaaat?), a Malu começa a lidar com os seus problemas, que nem sempre (quase nunca) são muito claros para nós. As coisas dão errado e, caramba, haja lágrima para tanta frustração! Ela tenta calçar os sapatos sem sucesso, chora. Quer colocar a toalhita em cima da mesinha sem que essa faça uma única ruga (perfeccionista han!), berra. 

O pior para ela são os bonecos. Ai, esses trastes!  Nunca ficam como ela quer. Fogo! A última foi a Bebé que não conseguia se ajeitar na posição do cão. Mas quem mandou fazerem uma boneca tão pouco rija??? 

Para além da paciência e da habilidade para gestão de crise que estamos a ter que desenvolver, esses episódios cada vez mais frequentes ensinam-nos algo mais. A empatia falta em tudo, falta em todos e a Malu desde que nasceu traz a nossa à tona. Somos forçados a "pensar pequeno" sem que isso signifique mediocridade. Somos forçados a esquecer um pouco o macro, afinal a coisa pega mesmo é no micro. Sem grandes interpretações, sem outras conotações. Apenas a denotação, apenas o que é e não o que seria ou o que será.

Tentamos agir empaticamente com os conflitos dela. E é muito difícil às vezes. Nós, adultos, estamos programados para que nos doa apenas o que é suposto doer, que nos doa apenas quando for insuportável. As pequenas decepções são para serem abafadas, afinal, há tanta gente que sofre mais. Do que podemos reclamar? 

Temos de ser razoáveis. Sim, só a Malu vê o mundo com os olhos dela, mas não custa usarmos os nossos através dos dela. A ela custa muito quando minimizamos os seus dilemas. Aos quase 2 anos, os problemas podem ser muito engraçados, mas para nós, para ela são mesmo graves. E tudo fica muito muito muito mais dramático se os fatores de risco entrarem no jogo. Passo a citar:

- Fome
- Sono
- Rotinas alteradas
- Os três juntos e misturados

Há coisa de duas semanas fizemos o que andam por aí a chamar de "escapadinha/escapadela", aquelas viagens curtinhas de um dia para o outro. A única que não escapou foi a Meg, coitada. Agora façamos as contas: 3 horas e meia de estrada + calor do cão + falta de rotina + ausência de soneca diurna + um pouco mais de calor do cão + entra e sai do carro para deslocamentos + os pais que ainda queriam que ela visse todos os animais dentro de um oceanário. Resultado da equação? O surto mais selvagem de sempre. Nunca conseguirei ser fiel na descrição, mas a Malu parecia um rolo compressor no chão. Rolava para lá, rolava para vá, contorcia-se toda se tentávamos pegá-la ao colo. Gritava, gritava, gritava. As pessoas com aquele ar de julgamento, nós que nunca achávamos a saída. Foi desesperador, claro. Ficamos envergonhados, óbvio. Mas voltando atrás um pouco, percebemos que ela tinha toda razão de ter ficado passada, até nós estávamos moídos.

É um exercício constante isso de percebê-la, de resolver essas questões positivamente. Toda vez que eu consigo evitar que "o vulcão entre em erupção", faço o Freddie Mercury. Tipo assim:



Não, não. É mais assim:



sexta-feira, 15 de maio de 2015

5 vantagens de amamentar um bebê maior que ninguém nunca te contou

Pronto. Lá vem a chata da amamentação com aquele discurso evangelizador dela de que a OMS preconiza o aleitamento materno pelo menos até os 2 anos e blá blá blá. Disso vocês já sabem e cada um toma as suas decisões, inclusive a de não amamentar. Não estou aqui para enfiar LM goela abaixo em ninguém. Sou uma pessoa pacífica, de bem, pouco conflituosa. Maaas, como eu adoro falar sobre esse assunto, achei que ele merecia outro post, talvez com um novo recorte.

Tenho certezinha absoluta que todo mundo conhece os benefícios do leite materno, sabe que a amamentação também reduz as chances da mãe desenvolver um câncer de mama, que pode auxiliar na perda de peso pós-parto, coisa e tal, tal e coisa. Quem amamenta sabe também que nem sempre é fácil. Mesmo que superemos todos os problemas de pega, alergias, intolerâncias, mastites e afins, há sempre aquele dia (ou aqueles dias, semanas) em que estamos um caco, o bebê só quer mamar e o nosso pensamento é "onde é que eu fui me meter?". É um bocado viver na dualidade. Adoramos os momentos de aconchego, mas tem alturas...ai, tem alturas em que só queremos as mamocas para nós. Estou mentindo? Não estou nada porque sei que tem mais gente nesse barco! Ora, não se escondam! Assumam lá!

Por essas e outras, muitas outras, há mães que desistem da livre demanda e da amamentação no geral. O cansaço é extenuante e todos temos formas diferentes de lidar com ele. Depois tem também aquela coisa, bebê crescido é bebê sabido. Eles ganham uma habilidade de sacar a mama fora que nem nós, as donas das ditas cujas, temos. Já viram as situações que podem surgir, não é? As posições contorcionistas que eles escolhem para mamar também são um caso à parte...Fora a nossa própria experiência, têm as vozes da sabedoria. "Ai, ainda mama tão grande? Ai que isso é vício!" "Vai mamar até casar?" "Mas já anda e ainda mama?". Essa última...é de uma cientificidade que comove!

Forças contrárias existem muitas e alguns fatores pesam, como já mencionei. Se você não quer desistir, o melhor a fazer é positivar ainda mais a experiência. Como? Encontrando vantagens mais práticas e menos pragmáticas! A teoria todo mundo tem na ponta da língua, mas quando o calo aperta...Aqui contamos com 20, quase 21 meses da livre demanda e já percebi que posso otimizar o momento da maminha (que ainda não muitos). Então, decidi partilhar esses "plus". Pode ser que ajudem alguém naqueles dias mais punks. Ou que pelo menos faça alguém pensar que existe maluco pra tudo (o que é mais provável, aliás).



1- Transforme no momento do "check up"
Quando querem, os bebês são muito pouco colaborativos. Por isso, aquele momento de tirar a caca do nariz pode ser um tormento. Aproveito para fazer isso quando a Malu está mamando. Nem sempre ela acha bonito, mas ainda é mais fácil do que em situações menos lactíferas. Também confiro as orelhas e o cabelo (que sempre tem algum nó).


2- Dá para aparar as mini-navalhas
Essa foi a que descobri mais recentemente. Andava há 2 dias em uma negociação frequente com a pequena para cortar as unhas, fazendo de tudo para que não houvessem berros. Uma bela tarde, ela chegou da creche, pediu para mamar e lá fui eu com a tesourinha, achando que não ia funcionar. Pois não é que deu certo? Cortei todas, ainda acertei e ela continuou fazendo o que tinha que fazer.


3- É mais fácil tentar um acordo
Muitas vezes, os bebês maiores mamam porque ficam entediados. Lembram-se assim do nada ou sentem certa saudade de nós. Naqueles dias em que estamos com pouca disponibilidade, vale tentar um acordo. Como eles já têm um grande poder de percepção, pode ser que funcione, não recusar, mas negociar. Por exemplo, se a Malu tiver mamado há pouco tempo e pedir de novo, eu digo que a mimi está cansada. Ela pede para dar um beijo (<3 <3 <3) e vai brincar ou fazer outra coisa. Funciona sempre? Não, mas as chances de fazer-me compreender são maiores do que se eu dissesse à Malu com 5 meses que a maminha precisava descansar HAHAHAHA Ela ia entender, ia.

4- É engraçado
Vocês acham que não tem piada nenhuma um bebê grande mamando? Eu acho, gente, principalmente o jeito que eles arranjam de pedir. A Malu, quando quer mudar de um lado para o outro diz: ôta mimi! ôta! Se eu tento enganá-la de uma alguma forma, ela tem que ser mais enfática: cutuca a mama e diz "essa!". A primeira vez que isso aconteceu foi em uma noite particularmente difícil. Ela sentou-se na cama, cruzou os braços e falou altíssimo (tenho certeza que todos os vizinhos ouviram): ÔTA MIMIIIII! Que mau humor resiste à "ôta mimi"? Se nos faz rir, acaba por ser mais prazeroso que desgastante.


5- Se tudo der errado, tire selfies (ou brelfies)
E pronto. Você não conseguiu fazer o check-up, nem cortar as unhas, a criança não quis conversa? Vá tirar umas selfies nesse tempo livre! Aposto como só tem fotos do bebê entupindo a memória do smartphone, não é? Já que tem que ficar sentada ali mesmo esses minutos, vale se permitir " a ousadia". Eu sou adepta, tanto da versão selfie, como da brelfie (que foi o raio do nome que inventaram para as fotos que tiramos enquanto damos de mamar).

Selfie sim, e se reclamar vai ter brelfie também!





terça-feira, 28 de abril de 2015

Feliz Dia da(s) Mãe(s) para quem?

Maio está à porta e, com ele, começam as enxurradas de "homenagens" pelo Dia da Mãe, no primeiro domingo do mês em Portugal, e Dia das Mães, uma semana depois no Brasil. Ou seja, já lá vêm duas semanas cheias de palavras afetuosas, publicidades que apelam para a emoção e deixam- nos a transpirar, suspirar de amor. Ninguém me perguntou, mas resumindo: é uma treta desgraçada e, como mãe, estou cada dia mais convencida disso.

Li as notícias hoje e tive vontade de voltar para cama, ficar lá em posição fetal. As mulheres portuguesas trabalham quatro vezes mais em atividades domésticas do que os homens e isso inclui prestar assistência aos filhos. Apenas 77 minutos do dia deles é dedicado a isso, enquanto o delas...bem, façam as contas. Não vi os dados brasileiros, mas não é surpresa se o quadro for bem mais díspar. Fora todas as outras problematizações, o que há de errado nesses números? Por que quatro vezes mais elas? Alguém diz "ah, porque se calhar os homens trabalham fora". Sim, existem inúmeros casos, tantos quanto o de mulheres que vão ao trabalho e ainda fazem jornada dupla ou tripla em casa. A minha questão com essa deambulação toda é: onde está a divisão? "Ajudar" dá a ideia de que o outro faz aquilo em caráter esporádico, porque tem tempo livre, porque é afável. Nós mães, nós mulheres não queremos a porcaria de uma ajuda. Queremos divisão. Não somos incansáveis, não somos inatingíveis.

Andando mais um bocado pela timeline, li o relato de parto mais triste dos últimos tempos. O pior de tudo é saber que a Melissa não foi a única e nem será a última a passar por isso. É assim que nascem muitas mães e deixemos os debates sobre a via de nascimento porque aqui não interessa se foi normal ou cesariana. Muitos constrangimentos começam mesmo no pré-natal. Somos "mãezinha", "mamã", diminuídas, infantilizadas, tratadas como números no momento em que o empoderamento é fundamental. As estatísticas de violência obstétrica são assustadoras, mas pouco ainda se fala sobre elas. Quando levantamos um pouco a voz e tentamos ser ouvidas, tentamos desabafar, mandam-nos deixar de cenas. "Você e o bebê estão bem e é isso que importa". Temos de nos conformar, de nos calar. O pós parto é duro. A nova conjuntura aliada às baixas hormonais rendem-nos questionamentos, incertezas, lágrimas. Quando levantamos um pouco a voz e tentamos ser ouvidas, mandam-nos deixar de cenas. "Olha que bebê lindo você tem! É um bênção!". Temos de nos conformar, de nos calar. A verdade é que uma mãe não pode reclamar, não querem ouvi-la dizer algo além de "estou radiante".

Depois os dias seguem. Um pai solteiro que cria o filho é notícia, as mães na mesma condição são coitadas. Amamentar é o melhor para o bebê, mas só quando feito em local apropriado. A mãe que coloca a mama de fora na rua é uma exibicionista. E aquela mãe que não conseguiu amamentar? Que preguiçosa! Foi porque não tentou! A criança está aos berros na fila do supermercado. Será que não tem mãe que lhe dê educação? Mãe é sagrada. Mãe tem instinto que não falha nunca. Que péssima mãe você é se não sabe porque seu filho está chorando!

Ser mãe não é um sacrifício, não deveria. Querem que acreditemos que sim porque convém. Não é fácil de todo porque envolve criar, educar, amar, estar disponível e tudo isso custa. É um sacrifício, dizem, porque muitas vezes é também solitário. Ninguém padece no paraíso, não deveria padecer. Há sempre alguém que aponta o dedo quando erramos. Mas, uma vez, um dia por ano, somos celebradas. Ganhamos flores, presentes, abraços, somos levadas para comer fora e agradecem-nos pelas vidas que geramos. Nos outros 364, só podemos sorrir e acenar porque, ao fim e ao cabo, estamos todos bem. Será?

Agora pensem comigo: Feliz Dia da(s) Mãe(s) para quem?

sexta-feira, 20 de março de 2015

Do que a maternidade nos traz

Há uns bons meses atrás (daqui a pouco faz um ano), estava eu com a Malu naquela mamada antes de dormir. Ela a entrar no sono profundo (an ran) e eu recebi uma inbox no Facebook de uma pessoa que eu não conhecia. Era um texto enorme, uma mensagem que me fez sentir cada palavra. A remetente era uma puérpera que tinha encontrado o blog ainda durante a gravidez, em uma pesquisa no Google sobre partos induzidos na Maternidade Júlio Dinis. Ela estava em uma situação parecida com a minha: quase nas 40 semanas e o médico a falar na indução. Procurava palavras de conforto, uma esperança de que talvez não precisasse daquilo. E não precisou. Dias depois de ler o meu relato, entrou em trabalho de parto espontaneamente. Na altura em que enviou-me a mensagem, já tinha a filha quase 2 meses e ela achou que fazia bem agradecer-me por compartilhar coisas tão minhas, mas que serviam aos outros como consolo, conforto ou mesmo espelho. Lembro-me de ter lido aquilo umas 3 vezes e ido às lágrimas ao contar para o José. Como eu era capaz daquilo? De dar esperanças a alguém que eu nem conhecia?

Aquela mensagem foi a primeira de muitas e aqueles meses os primeiros de alguns. Aquela puérpera era a Diana, mãe da Margarida, que vai a caminho dos 12 meses. Desde então, nós duas passamos por muito, por todas aquelas agruras e delícias que envolvem ter um bebê em casa. As noites menos tranquilas, a ida à creche, as doenças persistentes, os dias com menos paciência, mas também as primeiras palavras, passos, demonstrações de carinho. Transferimos essa relação do online para o offline e, sim, tornou-se minha amiga (espero que ela não venha aqui me contradizer. risos).

A meio do caminho, debatemo-nos as duas com a questão da recolocação profissional pós-maternidade. As duas jornalistas, com um histórico de rotinas malucas de plantão, sem qualquer desejo de retomá-las neste ponto da vida, mas com sede de resgatar o lado profissional. Um coaching, intenso, necessário. Fomos abrindo algumas portas, arrombando outras, levando com mais algumas na cara e as coisas foram seguindo seu curso.

A Diana tem uma paixão que ficou adormecida um tempo: a fotografia. Além disso, tem imenso talento. Não poderia ter outro resultado, decidiu arrancar com essa empreitada, que chamou Matte Fotografia. Como ela não poderia passar incólume pela maternidade, um dos focos do trabalho é fotografar bebê e crianças.

Este é um post homenagem-agradecimento-publicitário-orgulhoso porque vi o projeto nascer e sair da casca, vi a Margarida crescer e virar a linda que ela é e vi a Diana crescer  e ser a mãe e profissional que ela é agora, acima de tudo. Aquela mensagem não nos deixou indiferente e é por isso que estamos ainda por aqui. Ainda bem que a maternagem traz coisas e pessoas boas para o nosso lado, o percurso acaba por ser menos solitário porque sim, às vezes é.

Se vocês quiserem saber mais sobre a Matte e o trabalho da Diana, espreitem o blog do projeto e façam like na página do Facebook.

Para verem como o que eu falo não é da boca pra fora, deixo algumas fotos da sessão que ela fez comigo porque eu sou linda e mereço. Muaahh! Agora, sério. Não usamos maquiagem mesmo, exceto o batom, e o resultado...bem, vejam aí.





sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

"Mama África tem tanto que fazer..."

"...além de cuidar neném,
além de fazer denguim.
Filhinho tem que entender
que Mama África vai e vem
mas não se afasta de você"


Não estou trabalhando como empacotadeira nas Casas Bahia, mas sim, estou trabalhando. Todas comemora a conquista! Melhor do que isso, é trabalhar de casa. Não...espera...eu disse melhor? Ok, vá lá, pode ser.

Outro dia, assisti um workshop sobre organização (e é nessas horas que eu percebo o meu nível de adultice para com a vida) e a formadora (minha amiga Ligia Noia), aliás, e você deveria fazer like na página dela citou alguém que disse algo como "Nós só percebemos o quanto desorganizados somos quando começamos a fazer home office". E, meus amigos, essa é a dura verdade para quem trabalha em casa: caos! Confusão de horários, procrastinação no mais alto nível, a deadline chegando, e você vendo as gaivotinhas a passarem voando pela janela. Tudo bem, deve ter gente que já tem a malemolência para lidar com a coisa toda, o que ainda não é muito o meu caso. Tendo a Malu então e mesmo que ela vá para creche, é preciso coordenar as coisas de alguma forma minimamente funcional.

Analisando friamente a questão, eu ainda nem tenho um grande fluxo de trabalho, nada comparado com o que já foi a minha vida de jornalista-plantonista-não-preciso-parar-para-comer. É absolutamente suave na nave. Ou seria, não fosse o atual contexto e o fato de eu ter passado 2 anos mais ou menos sem escrever na linha profissional. Se eu contar pra vocês o desespero pessoal até a engrenagem funcionar...

E pronto, esse era mais um post prestação de contas com vocês se, por acaso, eu ficar muito tempo ausente. Pensaram que eu ia dar dicar, né, gente? Fuém...não vou mesmo. Não vou porque não deve haver caso de sucesso no mundo que trabalhe eficientemente, com bom aproveitamento, mergulhado em uma sala cheia de brinquedos e com um notebook afogado em migalhas de pão. Muito amor <3

Mas é isso aí, né? Bom de voltar à ativa, ainda que em passos lentos de quem recomeça, é poder escrever sobre coisas tipo esta. Afinal, falar com conhecimento de causa é outro nível. hahahihihoho

Não me abandonem, tá? "Mama África vai e vem, mas não se afasta de você"

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Deixem as grávidas em paz! (e as mães também)

Essa semana eu estive à conversa com uma amiga que está na reta final da gestação. Entre os assuntos de sempre (parto, cansaço, nervosismo), ela queixou-se que estava extremamente chateada com os comentários que as pessoas fazem sobre o aspecto dela enquanto grávida. Pensei um bocado e reparei que essa é uma questão recorrente. Não por acaso, passou-se aquilo da Fernanda Gentil, apresentadora que está grávida de dois meses.

Sempre tem um, dois, dez engraçadinhos que vêm com aquela pergunta e/ou comentário cheios de más intenções. "Quantos quilos tu já engordou, mulher?" ou "Nossa, que barriga peluda!" ou "Que barriga pequena! Tem certeza que já tem 7 meses?" ou "Ow, tua cara tá ficando manchada..." e ainda "Mas se tu engordar demais vai ser difícil emagrecer depois...". Caras...CARAS, a sério, é muito difícil ser agradável com uma pessoa que está fabricando uma vida? Assim, só uma pergunta inocente. É complicado encontrar uma grávida e perguntar se ela está bem, se está feliz ao invés de comentar as possíveis manchas que ela venha a ter? Dói muito desejar as maiores felicidades e não perguntar sobre os quilos ganhos? Assim, só pra saber.

Nós estamos presos a estereótipos tão cretinos de beleza que esquecemos de todos os outros contornos que a vida real tem. Grávida engorda sim, sejam 3 ou 30 quilos, e creio que só ela tenha a ver com isso. Não sei se vocês sabem, mas são 9 meses de reações químicas e hormonais, um corpo inteiro focado em funcionar minimamente bem e ainda produzir outro na maior perfeição, nos mínimos detalhes. Padrões anoréxicos sem celulites não entram nessa composição, quer vocês queiram ou não.

Eu engordei 22 quilos durante a gravidez. Apareceu uma estria na barriga, outras nas mamas. Ganhei mais pelos, as axilas escureceram um bocado. Se eu gostei? Achei péssimo. Não foram raras as vezes que me olhei no espelho e chorei de raiva. Mas também não foram raras as que analisei bem e achei que meu cabelo estava ótimo e que a minha cara brilhava mais que uma lua cheia. Na maior parte do tempo, comi o que quis comer, estiquei as pernas no sofá ao invés de fazer hidroginástica e não passei óleo na barriga por pura preguiça. Depois do parto, chorei mais um bocado com aquela barriga estranha, contei os dias para ter o meu "corpo de volta". O tempo passou, emagreci (mais por causa da recém descoberta tireoidite do que por outra coisa), comemorei o feito, chorei as pitangas com o peito visivelmente maior do que o outro. O tempo passou mais um bocado e só agora percebo. O corpo não volta. Não há volta possível. Eu tive uma filha. Ela esteve aqui dentro, foi feita pedacinho por pedacinho e depois saiu. O corpo moldado durante 9 meses para acomodar uma vida nunca mais voltará, nunca mais será o mesmo. Não só por causa das estrias, das celulites, das marcas todas. Nunca mais será o mesmo porque o corpo de antes não era um corpo grávido.

Vejamos mais a beleza no sorriso nervoso daquelas mulheres, na comemoração que elas fazem com os primeiros movimentos do bebê. Vejamos mais a beleza de um ventre preenchido. Esqueçamos os valores, os pesos, as medidas.

Enquanto você toma o seu suco detox desta semana e aponta defeitos na grávida, o corpo dela prepara uma festa silenciosa chamada vida. Enquanto você critica a recém mãe que anda descabelada e continua 15 quilos acima do peso, ela descobre os cheiros, os sons, os trejeitos da vida que fabricou.

Deixem as grávidas em paz, e as mães, e os bebês, e todo mundo. Vivamos. A beleza é muito maior do que o número que vestimos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Precisamos falar sobre a febre

Vocês leem os posts que transpiram tranquilidade, com o modo "deixa a vida me levar" ligado e devem pensar "Nossa, como a Naruna é calma, super de boa, relax..."...porém não, hein, minha gente? Há duas coisas com que eu sou bem psicopata: alimentação e febre. Sobre a primeira, um dia eu volto a falar. Hoje o foco é mesma essa segundinha aí, essa fulaninha aí. 

As correntes homeopáticasantroposóficasrelaxosóficas podem dizer o que quiserem, mas eu tenho um certo pânico de febre. Sei que é um resposta normal do corpo aos invasores de treta. Eu já li, pesquisei, meditei e percebi muito em relação, só que não adianta. Ajo calmamente enquanto o meu interior trava uma batalha entre não baixá-la a todo custo e achar que é melhor medicar logo antes que suba demais. 

Se formos falar de febre por febre, a primeira vez que a Malu fez uma foi ao tomar as vacinas dos 2 meses. E pronto, essa eu desconto. Aliás, desconto todas as que sejam em decorrência de vacinas porque, vejam bem, eu sei a causa. Não medico, não surto. Deixo ela fazer o seu trabalho. 

No milionésimo episódio febril: só o colo salva
Com 3 ela teve uma bronquiolite. O quadro foi outro. Imagine acordar de madrugada com o bebê gemendo, colocar o termômetro e aquilo apitar 40,5ºC. Já narrei tudo aqui com a devida dramaticidade. O atendimento dela nas urgência esteve focado em fazer ceder o raio da febre que não ia embora por nada, para preocupação das enfermeiras e meu desespero. Creio que foi nessa altura em que fiquei traumatizada. Os outros sintomas pareciam menores, tanto que eu sequer os tinha percebido. A febre, para mim, era a doença, o mal, a causa da internação. 

Passado o susto, foram largos meses sem nada. O termômetro sempre a marcar 36,7ºC, 37ºC, no máximo. Como é doce a vida...como foi...até outubro, quando foi aberta a temporada de doenças 2014/2015. Desde então, ma friends, já perdi as contas de quantas vezes a febre veio. Sabem o que me deixa mais tensa? É que ela vem primeiro, anuncia que dias de tormenta estão a caminho. Geralmente, só quando ela cede ou passadas umas boas 24 horas é que conseguimos saber qual a moléstia da vez. Até lá..."será que é pneumonia? será que é catapora? meu deus, será que é febre aftosa?" e, felizmente, têm sido só aquelas viroses estúpidas e uns resfriados, uns 157 resfriados. Com esse vasto leque de bichezas, a Malu já teve febre baixa, mas que a deixa completamente abatida, a febre que só a deixa abatida quando passa dos 39ºC e aquela que chega aos 40ºC com ela completamente elétrica, tudo isso dependendo muito de como o organismo dela está e o tipo de vírus que veio dessa vez.

Devo surtar muitas vezes ainda, mas, como disse, aprendi coisas que me fizeram tentar encarar isso da forma menos louca possível. Então, deixo aqui alguma dicas:

- É bom avaliar a temperatura sempre na mesma parte do corpo. Se for na axilas, mantenha. Se for no rabinho, mantenha também.

- Eu avalio sempre via retal e, vejam bem, é uma temperatura mais alta do que a real. Pode variar de 0,3ºC a 1ºC. Dou um desconto de 0,5ºC. Então, para mim, só passa a ser febre acima dos 38ºC. Os últimos médicos que nos atenderam só têm considerado a partir de 38,5ºC (O que deixa fumaçando! Como assim a criança tem 38,1ºC há 3 dias e eles desconsideram????)

- Cuidado com a medicação, até porque ela pode mascarar os outros sintomas e retardar um diagnóstico. Só recorro a esse recurso se estiver muito alta ou se ela estiver muito abatida.

- Pés e mãos frios durante o estado febril são normais! Eu não sabia disso e achei que fosse sinal de uma convulsão. HAHAHAHAHAHA O que acontece é que a febre faz um caminho pelo nosso corpo e o último lugar em que ela chega é nas extremidades. Se estão frias é porque o caminho não está completo e ela ainda vai subir.

- Banho frio não! No máximo, 2ºC abaixo da temperatura do corpo do bebê. Não que eu ande medindo temperatura de água..pfff...Deixem-na tépida. Água gelada em corpo quente (além de ser uma tortura filha da mãe a qual fui submetida várias vezes na vida) é risco grande de choque térmico. A temperatura pode descer bruscamente também e aí sim, vir uma convulsão.

- Compressas mornas na testa, nas axilas e virilhas ajudam a fazê-la baixar. Nada de álcool.

- Hidratar é super importante! A febre desidrata. Oferecer líquidos sempre.

- Deixá-la com menos roupa quanto possível pra temperatura não subir muito

- Avalie o estado geral da criança. Febre acima de 39ºC em um bebê com menos de 6 meses é médico. Sem desespero, mas médico. Nos maiorzinhos, é bom prestar atenção no surgimento de outros sintomas. Às vezes até o excesso de roupa faz a temperatura subir demais. 

- E calma, né, gente? Isso é pra vocês e pra mim também que ainda estou aprendendo a ser menos febrofóbica. Acho que no dia que ela, sei lá, deslocar algum osso ou tiver uma hemorragia nasal vou achar que a febre não era nada demais. Não que eu prefira que aconteça isso...não...não...UM OSSO DESLOCADO NÃO! MALU, NÃO! 


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

16 meses e o ano que foi

2014 foi meu primeiro ano "mãe", de janeiro a dezembro, integralmente, full time, fins de semana, feriados, horas extras. E pronto, os outros a seguir também o serão porque não posso chegar pra Malu e dizer "Eu me demito!". Nem quero. Mas 2014 foi o primeirão, o primeiraço, o pioneiro. E foi, sabem. Foi.

Que eu me lembre, não esperava muito. Esperava estar aqui para ela, para nós e para contar a estória. Aliás, se há algo que mudou bastante para mim com a maternidade foi a geração de expectativas. Desde que engravidei, elas andam muito próximas de zero. E não levem isso a mal! No meu caso, é ótimo! Cinco estrelas mesmo! Ora vejam bem, eu sou Touro com ascendente em Touro, logo, gosto de segurança, dos dois pés bem assentes no chão. Os pés. Porque a cabeça voa, vai embora, sonha. Não contem a ninguém, mas eu conhecia um fulano em um dia e no outro estava completando o nosso álbum mental de casamento. Não contem, tá???? Então, eu engravidei e ansiosa foi o que eu menos fui. Levei tudo nas calmas, literalmente empurrei com a barriga. Não quis saber com quem a Malu pareceria, se teria os meus olhos ou a boca do José, se seria chorona ou sossegada. Ela nasceu e, eu nunca imaginei, mas saiu-me melhor do que encomenda. Tinha ela uma semana e vinham as perguntas "Mas será que os olhos dela ficarão claros?" "Será que o cabelo vai ficar como teu?". Quero lá saber, gente...curtam o momento! Malu cresceu, continua a crescer e eu não faço ideia que cara ela vai ter quando tiver 2 anos ou como vai ser quando conseguir formar uma frase. Não sei, não faço ideia, nunca me peguei pensando nisso. Acho que estive muito ocupada aproveitando a Malu de hoje que pode não ser a mesma de amanhã.

É basicamente isso. Ela me trouxe para o presente. Não quer que eu faça álbum mental de casamento, não quer que pense como ela ficará com o uniforme da escola, não quer que eu pense que curso ela vai escolher na universidade. Ela quer que eu sente no chão agora e leia o livro dos bichos pela sexta vez. 

Mas eu penso no futuro, claro. Penso quando tento adiar ao máximo a introdução das ditas "guloseimas", quando não nego o colo, quando atendo o choro, quando valorizo o encaixe de duas pecinhas de brinquedo que ela fez com tanto custo, quando rio junto. Estar no presente e presente é, de certa forma, pensar no futuro também.

Creio que não parei de gerar expectativas de todo. Parei de gerar as expectativas erradas, as expectativas errantes. 

Dia 31 fizemos 16 meses para encerrar o ano. O nosso primeiro ano inteiro juntas, de janeiro a dezembro. Que venha 2015, como ele tiver de ser. Nós daremos um jeito.