quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Desculpem o transtorno; preciso falar sobre a Ava

Os dia 11 estão sempre a cruzar o meu caminho de alguma forma. Cabalisticamente, predestinadamente coisas importantes acontecem nesta data. Em mais um desses dias, no verão de 2015, eu descobri que ela viria completar a nossa equação tão matematicamente imperfeita. Confirmei. Era o primeiro dia do atraso do primeiro ciclo de tentativas. Segurei o primeiro xixi da manhã (não recomendo por motivos óbvios) e fui à farmácia buscar um teste. O segundo risco apareceu forte, sem margem para dúvidas. Que euforia! Que medo! Aliás, quanto medo tive! Medo de ser uma gravidez química, uma gravidez ectópica, medo de um aborto espontâneo, do hipotiroidismo complicar as coisas, medo, medo, medo. Foi a segunda gravidez, mas a primeira vez que tive tanto medo.

No dia em que ouvimos o coração pela primeira vez, recebi uma proposta de emprego. O dia de ir buscar o relatório da ecografia? O mesmo em que a Malu completava 2 anos. Tudo tão milimetricamente entrelaçado. O universo não trabalha com acasos.

Eu sabia que era ela. O José desde sempre disse que era uma menina. Eu queria Cléo. Para mim, ela era Cléo. Ele não concordava, não queria, não gostava, não soava bem. "Por que não gostas de Cléo?", questionava eu na cama, enquanto víamos o jornal, enquanto jantávamos, sempre. "Cléo não". Em um dos almoços no trabalho, uma colega falou da sobrinha, a Ava. "Como é o nome dela?" "Ava", ela repetiu. Fez-me um clique. Era estranho, incomodava-me e agradava-me ao mesmo tempo. Fui pesquisar. "A desejada". Fiquei eufórica. Mal falei ao José e ele disse que sim, era ela. Não era a Cléo porque era a Ava.

No dia em que ela chegou, um 22, curiosamente o dobro de 11, já nos conhecíamos, eu sei, já nos tínhamos topado em uma outra vida qualquer. O olhar, meu deus, o olhar sempre foi de quem sabe. Veio para casa e parece que esteve sempre aqui. Estávamos e ainda estamos em adaptação, mas ela esteve sempre aqui.

Dizem-nos com muita frequência que ela e a Malu são muito parecidas. Impossível. Talvez por convivermos com as personalidades tão distintas, temos convicção de que elas não poderiam ser mais diferentes. Enquanto a Malu trocou-nos as voltas todas, Ava nasceu com um reloginho. E eu que achei que isso não fosse possível! Até a forma de mamar de uma não tem nada a ver com a outra, sou a prova viva.

Ava, a desejada, é o meu oásis no meio de tanto caos. Tem o melhor dos cheiros, raramente fica mal disposta e os olhos brilham quando eu apareço. Eu, o pai, a Malu ou a Meg. E ela ri-se. Ri-se. É um pacotinho quentinho de amor que eu carrego quase sempre ao peito (ou às costas). Ava, a desejada, é também Bebézinha, Pequenina, Piquí, Piquichiquí (contribuição da Malu) ou Bicufi (contribuição do pai). Ava, a desejada, veio na hora certa e nós as duas sabemos disso, mesmo que os dedos tenham sido apontados, mesmo que estejamos no olho do furacão.

Em mais um dia 22, ela faz 5 meses, como o 5 que cantei, inspirei e expirei a gravidez inteira. Tudo certo sim, como 2 e 2 são 5.


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