quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Baby quê?!?

Eu costumo estar mais ativa na página do Facebook e há alguns dias (ok, semanas) pedi que enviassem-me dúvidas sobre essa coisa do babywearing que eu tanto falo por lá. Como mencionei no post, ia escrever algo pessoal, sobre a minha experiência com os slings e afins, mas achei que valia procurar uma opinião mais profissional. Antes mesmo que eu saísse a chatear a malta, a Gosia Krogulec, que é uma consultora de babywearing super amorosa, simpática e experiente, voluntariou-se para responder às questões. A Gosia é formada da pela escola da babywearing ClauWi®, vive em Portugal, dá workshops sobre o assunto e, além de tudo, carrega o filho de quase 3 anos. Ou seja, usa toda a teoria na vida prática diária.

Não faz ideia do que é babywearing, nunca ouviu falar nesta cena ou até ouviu, mas não imagina o que seja? Sente-se numa cadeira confortável, traga um copinho de água, umas bolachinhas e vem comigo! Vocês já sabem que eu tento, mas não consigo escrever pouco. Consequentemente, não consegui perguntar pouco. Risos.


É A MAMÃE SIM: Gosia, para começar, o que é isso do babywearing? Existe alguma tradução para a expressão? É mesmo uma "moda", como dizem por aí?

Babywearing basicamente é colo com mãos livres. É usar um porta-bebés, ou um xaile ou lenço para suportar o bebé junto ao nosso corpo. Ainda não inventamos nenhuma tradução em português que nos soasse bem: uma tradução direta do inglês seria "vestir o bebé", mas soa um pouco estranho. Aceito sugestões dos leitores para a tradução da expressão! Se é uma moda...eu acho que não. É uma prática comum entre os povos mais tradicionais e é mesmo transversal a todas as culturas do globo. Os bebés humanos precisavam de ser carregados sempre e as mães faziam-no sempre. Nós no mundo ocidental perdemos esta tradição por uns tempos quando nos tornamos uma sociedade de afluência e de consumo (pois logo descobriu-se que os carrinhos de bebé, as caminhas, os parques e as espreguiçadeiras são um rico negócio). 

Nossas férias só foram possíveis graças aos trapinhos!


EAMS: É uma prática totalmente segura? Existe alguma contra indicação seja para o bebé ou para os carregadores?

Para estas perguntas não consigo dar uma resposta generalizada. Em grande parte dos casos em que os pais usam o seu senso comum, sim, é seguro. No entanto, é possivel usar um porta-bebés muito mal, de forma que a utilização pode tornar-se perigosa. É necessário familiarizar-se com a técnica, pois o babywearing sobretudo é uma serie de práticas e não apenas objetos. Isto não quer dizer que é uma coisa muito perigosa, muito pelo contrário. Só quero dizer que temos que ter em conta que o porta-bebé em si não dá garantias de segurança, mas sim a sua utilização correta. 

Contra-indicações gerais não existem; todos os bebés precisam de ser carregados e todos os pais precisam de uma ajudinha para lhes poder dar o contacto que eles necessitam. No entanto, quando há alguma necessidade especial no bebé ou adulto, ou alguma questão postural, aconselho sempre falar primeiro com um profissional de saúde (fisioterapeuta, médico, o que for mais relevante para a situação) e uma consultora de babywearing, para explorar as possibilidades de babywearing e escolher um método que seja mais benéfico para o desenvolvimento do bebé e para a saúde e conforto do adulto. Queremos que a experiência de carregar o bebé seja agradável, prazerosa e livre de desconforto, pois só assim favorece o desenvolvimento do apego entre o cuidador e o bebé. E o apego é absolutamente fundamental, muito mais do que o babywearing em si. Mas o babywearing é normalmente uma grande ajuda :)

EAMS: Quais as principais vantagens para carregador e carregado?

As vantagens são muitíssimas. Em 1º lugar, em termos psicológicos, favorece o estabelecimento de apego saudável entre o bebé e a mãe. Proporciona para o bebé um ambiente emcionalmente seguro para observar o mundo, ele passa a chorar menos, dormir mais e melhor, e passa mais tempo em estado de "calmo alerta", o que facilita a aprendizagem e o desenvolvimento neurológico. Favorece o desenvolvimento muscular, pois o bebé está na posição vertical, mas apoiado pelo tecido e a posição faz com que trabalhe os músculos do tronco sem sobrecarregar a coluna. Ele tem uma certa liberdade de movimentos, podendo levantar a cabeça quando puder e quiser e descansar quando precisa. Apoia o desenvolvimento correto das ancas e pode ajudar no tratamento de displasia. Em recém nascidos que ainda não estabilizaram as funções rítmicas do corpo (ritmo cardiaco, respiração, digestão, entre outros) o contacto com o corpo do adulto ajuda a fazê-lo. O próprio movimento do nosso caminhar também ajuda a estabilizar essas funções. E, com um porta-bebés naturalmente temos mais liberdade e mais facilidade em nos movimentar e acabamos por fazê-lo durante muito mais tempo. O nosso movimento também dá um importante estímulo vestibular: os movimentos complexos que o bebé colado ao nosso corpo faz ajudam-no a desenvolver melhor a percepção espacial e a própriocepção - a percepção do seu próprio corpo. Acho que o babywearing proporciona mesmo o ambiente ideal para o desenvolvimento do bebé.

Para o carregador o babywearing significa mãos livres para outras tarefas e outros filhos, maior liberdade de movimento fora de casa (sem a necessidade de andar com o carrinho em terreno difícil que são as nossas cidades). Para a mãe, o babywearing ajuda na amamentação, o contacto constante dos dois corpos estimula a produção de leite. Com o babywearing é mais fácil sair de casa e manter o mínimo da vida social e o seu bebé feliz - tudo que a nova mãe precisa!

A Gosia em um dos workshops que ministra Fonte: fanpage Carregados de Amor


EAMS: Existe um verdadeiro universo de porta-bebé à disposição no mercado. Já se sabe que nem todos são adequados ou ergonómicos. Posto isso, como reconhecer um porta-bebé ergonómico?

Resumidamente, um porta bebé ergonómico nunca é rígido e é feito num material que se adapta ao corpo do bebé e do carregador - tecido ou malha. No caso de porta-bebés estruturados, é importante que a largura do entrepernas seja suficiente para apoiar as pernas de joelho a joelho, não mais nem menos. Basicamente, deve possibilitar que o bebé esteja apoiado numa posição fisiologica, ou seja, uma posição que ele seria capaz de adoptar por ele próprio. Em caso de bebés no 1º ano de vida, isso quer dizer, regra geral, uma posição com pernas ligeiramente abertas e bem fletidas, e costas ligeiramente arredondadas. Para tirar o máximo proveito de vantagens do babywearing e assegurar a posição saudável do bebé, recomendamos carregar bebés sempre na vertical. Devemos ter em conta que a medida que o bebé fortalece a sua musculatura, as costas endireitam-se progressivamente. O elemento mais importante da posição que devemos ter em conta é a flexão das pernas, com joelhos ao nível do rabo ou ligeiramente acima (depende do porta-bebé). Essa posição em si induz uma ligeira báscula da bacia, que por sua vez assegura que a coluna esteja livre de pressões. É muito importante também ajustar bem o porta-bebé, para que as costas fiquem apoiadas e o bebé não fique afundado no porta-bebé.

(Para ler mais sobre o assunto, recomendo o este post da Gosia no blog Apertadinhos!)



EAMS: Por que a posição horizontal, ou seja, com o bebé deitado, não é recomendada?

Esta posição pode parcialmente fechar as vias aéreas e dificultar a respiração. O tecido do porta-bebé, se houver em excesso, pode também fechar-se e tapar a cara do bebé. No caso de um recém-nascido, que ainda não respira com regularidade, pode haver algum risco de asfixia. 

Eu não gosto de parecer ser do contra, e desde que trabalho com consultora deparo-me com situações algo delicadas com algumas enfermeiras que aconselham as mães o uso da posição deitada. Desenvolvi uma estratégia que basicamente consiste apenas em falar de vantagens do babywearing na vertical e não de perigos da posição deitada (que as tais enfermeiras interpretam normalmente com um ataque). Basicamente, carregar o bebé em posição deitada, mesmo sem a posição afundada e com queixo no peito, não permite tirar o proveito de várias vantagens do babywearing que a posição vertical proporciona: o desenvolvimento muscular, o estímulo visual, a posição da anca, o contacto pele com pele, e muitas mais. Também impossibilita que o bebé seja carregado nas costas e mesmo na frente desloca mais o centro de equilibrio da mãe e não favorece tanto a boa postura (tão importante no pós-parto!).

EAMS: Quais os tipos de porta- bebés ergonómicos e quanto é que se pode gastar, em média, para adquirir um?

Pouch sling (que pode ser usado na posição vertical)

Fonte: Google

Sling de argolas (ring sling)

Pois é, o José é um poser que deus me livre!


Pano elástico (wrap sling)

Fonte: Google

Pano tecido (woven wrap)

Meu pano de sonho atualmente <3  Fonte: fanpage Artipoppe 

Mei-tai


Mochila ergonómica (com fivelas) 

Fonte: facebook do José poser


Os preços variam imenso. Um pano ou sling de argolas de qualidade decente pode adquirir-se a partir de uns 40€. Existem mais baratos, mas normalmente a qualidade deixa muito a desejar. "Gasto médio" nem sei se existe...há porta-bebés muito, muito caros, mas não é necessário gastar muito dinheiro para fazer babywearing com conforto. Visto que um marsúpio não ergonómico custa por volta de 100-150€, é possivel gastar bem menos num dispositivo ergonómico.

EAMS: Até que idade se pode carregar um bebé?

Até quando bebé/o carregador quiserem. Sempre num porta-bebés adequado à fase do desenvolvimento - para poupar as costas do bebé, quando está pequeno, e as nossas quando está grande!

EAMS: O que uma família deve considerar antes de comprar o primeiro porta-bebé (e apanhar o vício hahaha)?

Deve considerar a fase de desenvolvimento do bebé, o seu estilo de vida (se costuma fazer caminhadas, se anda muito de carro, se caminha pouco, se vai ser só 1 pessoa a usar o porta-bebés ou várias, se tem elevador no prédio, etc), as suas preferencias pessoais e escolher um porta-bebés que é uma espécie de compromisso entre estas três variantes. A Julia Wronikowska, que também é consultora ClauWi® escreveu um excelente artigo sobre este assunto.

EAMS: E qual o papel de uma consultora no meio disto tudo?

É uma pessoa que pode ajudar na escolha do porta-bebés mais adequado para cada família, assistir na aprendizagem da amarração no caso de porta-bebés que exigem alguma prática - pano e sling de argolas, informar sobre as formas de utilização mais benéficas para a dupla carregador/bebé e esclarecer outras dúvidas. Neste momento, em Portugal há consultoras de diferentes escolas de formação e cada uma tem os seus pontos fortes. A minha escola de formação é a ClauWi. O que eu gosto nessa escola é o foco na análise, como diferentes amarrações com pano e diferentes porta-bebés afetam a posição do bebé e postura do carregador. Assim, sabendo os princípios, temos conhecimentos transversais que podemos aplicar a qualquer porta-bebé e qualquer família. 

Fonte: fanpage Carregados de Amor


EAMS: Que conselho você daria para alguém que está a pensar em adentrar o mundo do babywearing, mas ainda não tem certeza se vai adaptar-se?

Por vezes as pessoas têm ideias erradas sobre o que é o babywearing! Alguns pensam: é marsúpios, outros pensam: é slings, outros pensam: é aqueles panos grandes coloridos para hippies. O meu conselho é: babywearing é muita coisa e há algo adequado para cada pessoa! Não tenham receio de experimentar, para adaptar-se basta querer.


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Eu digo-vos uma coisa: quando se apanhao bichinho, é difícil largar! 
Além dessas vantagens todas, os panos e mochilas são lindos e feitos de materiais livres de tóxicos (para os bebés colocarem a boca à vontade). Vou deixar aqui uma lista de links úteis para quem quiser aderir à "loucura".

Carregados de Amor - A Gosia tem uma loja online onde vende trapinhos maravilhosos de marcas conceituadas no assunto. Há também a fanpage  para quem quiser saber dos próximos workshops ou, quem sabe, marcar uma consulta. Ela e a Alexandra Maia, outra consultora querida, amorosa e simpática (é verdade, as duas são!), estão disponíveis para ajudar.

Apertadinhos.com - Um blog muito catita (adoro esta expressão!) todinho sobre babywearing e em português!

Mamã Natureza -  A Mamã Natureza tem porta-bebés lindos de morrer e feitos em Portugal!

Mãe ao Cubo - A Mariana é mãe de 3, gente como a gente, e relata na página o dia a dia com o babywearing. Ultimamente tem feito uns tutoriais muito interessantes de portes!

Kaïté de Psicolor- A Kaïté é uma inspiração em muitos sentidos. Tem uma marca maravilhosa de porta-bebés, a Psicolor, e posta fotos que dá vontade a uma pessoa ter centenas de filhos. Ok, dezenas.

Wrap you in love - Esta senhora é uma deusa do babywearing e tem um cabelo de arco-íris. Como é que não pode ser maravilhosa? Os tutoriais são ótimos para quem quer aprender desde o mais básico até amarrações elaboradas.

MiddleMarker - Uma reunião de consultoras que dinamizam workshops pelo país e ajudam a espalhar ainda mais a magia do babywearing.


Podia deixar muito mais, mas o post já virou uma bíblia. Podem levantar o rabinho da cadeira agora, arranjar um paninho, colocar o bebézinho ou o bebezão e sejam felizes. Bom babywearing!

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