terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Da impotência ou Quando um filho fica doente

Nenhum(a) leitura/pitaco/dica/conselho poderia preparar-me para ver meu bebê doente. Nenhuma. Nada. Ninguém. No auge da confusão, eu só conseguia pensar de onde os pais tiram tanta força para tomar decisões acertadas em um momento como aquele. Não há dor no mundo como aquela, não há maior entrega do que querer a dor do pequeno toda para si.

Ia tudo supermegablaster bem, fora o frio de rachar que vem fazendo e o fato de eu ter ficado de cama uns 2 dias na semana passada.  Usei máscara ao cuidar da Malu, amamentar e tudo. Passou-se um dia, melhorei e ela parecia okzinha também. Alívio. No dois dias a seguir, ela andou enjoadinha, reclamona, chorosa, mas mamando bem e evacuando normalmente. Pensei que era a crise dos 3 meses já à porta. Até que numa troca de fralda, decidi por o termômetro só por curiosidade. A temperatura só subia, loucamente, descontroladamente, tal qual uma sensação de pânico na boca do meu estômago. 38,8ºC. Fiquei cega, agarrei-a como se o abraço espantasse a febre. Uma hora depois, o José já tinha vindo do trabalho a correr e estávamos a caminho do centro de saúde. A nossa médica de família não estava. Ela foi vista por uma outra. Uma senhora absolutamente fria, "objetiva", que disse ser uma" infecçãozita", que não via caso pra se preocupar e era só dar-lhe paracetamol quando a febre subisse. Voltamos pra casa, mas não consegui ficar absolutamente tranquila. Maluzinha não fazia seu "agu uh uh" de sempre, não festejou no banho. 39,5ºC. A febre não cedia. Coloquei-a pra dormir tentando acreditar que o medicamento faria efeito.



3h10 da manhã. Malu gemia, os movimentos eram lentos. 40,4ºC. Aqui veio o desespero. Desespero com todas as letras. Previ uma convulsão, que felizmente não veio. Demos-lhe um banho pra baixar a febre e corremos pras urgências. Então. começou uma saga. Só um dos pais podia acompanhá-la. O José ficou na recepção gelada enquanto eu carregava-a angustiada pra cima e pra baixo. Tomou antitérmico via supositório, foi alscutada n vezes, fez nebulizações, tiraram-lhe sangue do braço, dos pés, foi aspirada, eu tinha de evitar pegá-la ao colo pra ver se a temperatura descia, mais antitérmico, usou sonda pra colher xixi. Ela já tinha sido tão massacrada, que chorava desesperadamente só de ver alguém se aproximar. Eu só chorava. Não lembrava de comer, de beber água ou ir ao banheiro. Já às 15h, o José pode entrar por uns minutos. Foi quando eu "almocei". Ele levou mais fraldas, mais bodies. A febre ainda lá e não nos davam certeza do que ela tinha. Perto das 22h, disseram que ela precisava ser transferida para outro hospital. Eu não tinha dormido, comido direito ou tomado banho, e, naquela altura, as palavras soaram como uma sentença negativa. Pensei que o caso era tão grave que ela ia precisar de cuidados especiais. O José veio de novo. Chorei copiosamente, tinha as ideias todas atrapalhadas. Ele então parou uma enfermeira e pediu que ela nos explicasse exatamente o que estava acontecendo. A Malu, afinal, tinha uma bronqueolite aguda e precisava de um internamento de acompanhamento. Estávamos ainda nas urgências e eles não tinham equipe para acompanhá-la, por isso a transferência.

Às 23h, chegamos de ambulância ao Pedro Hispano. O médico mais cool que eu já vi na vida atendeu-nos a tranqulizou. Realmente era uma bronqueolite, uma espécie de gripe forte em nós adultos. Os pulmões dela estavam mega congestionados, o nariz entupido. Ainda tinha uma suspeita de infecção urinária. Estranhamente, por mais que os nomes pareçam assustadores, foi aqui que fiquei calma. Senti que tudo ia ficar bem. A Malu recebeu o tratamento mais humanizado que poderia ter tido. Cada médico e cada enfermeiro que por ela passou foi impecável, diferente da experiência nas urgências. Foram sempre cuidadosos, conversavam com ela, não a incomodavam se estivesse dormindo. No dia a seguir, apresentou melhora e assim seguiu até a alta, na tarde de ontem, uma vez que a suspeita de infecção urinária foi despistada. Como mãe, estive lá sempre. Não deixei de amamentar por nada, fazia-lhe as nebulizações necessárias, media-lhe a temperatura. O nosso protagonismo de pais foi sempre respeitado e, deus, como eu agradeço por isso. 

A princípio, senti-me extremamente falhada, impotente. Como o meu carinho não fazia a febre dela ir embora? Como o meu leite não foi capaz de protegê-la da doença? Poder tratá-la durante o internamento deu-me confiança. Recobrei a minha capacidade de acreditar que posso sempre ajudá-la do meu jeito. E o José ajudar-nos porque sabe-se lá o que teria sido sem ele ali. Tanto que a alta veio na véspera do aniversário dele. Nada é mesmo por acaso.

Esse relato me é tão caro quanto o do parto. Tive de exorcizar esse medo todo que fechou o primeiro trimestre de vida dela e de "revida" nossa. A fofinha completou seus 3 meses com um catéter no braço, mas infinitamente mais pronta pro que virá. 

E ontem, de volta a casa, ao deitarmos todos juntos, vi que atravessamos mais um rito, para o qual não estávamos prontos, mas que fez-se necessário. Na próxima, mamãe pode até chorar menos, mas vai sempre querer ter a dor ao invés da filhota dela.


17 comentários:

  1. Nenhuma mesmo. Cada filho é um caso. E no segundo pitaco eu já tô d ando piti. E seus medos e buscas de respostas são os mesmos de toda mãe... É como li hoje, a mãe trabalha de dentro para fora, o pai ao contrário. E assim nos equilibramos. Paz e saúde para vocês e para esse botãozinho de flor. bjs

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    1. É bem isso mesmo. Aqui em casa estamos atingindo esse equilíbrio, acho eu. Só assim a família funciona efetivamente. :)
      Obrigada e beijos aos pequenos!

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  2. Que angustiaaaa....mas graças a Deus ela tá bem. Muita saúde pra Malu! bjos
    Lennara Melo

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  3. Meu Deus! Meu Deus!
    Você tinha comentado no face que ela estava borocoxô e depois sumiram. E eu, na lerdeza gravídica, nem escrevi mensagem perguntando se estava tudo bem. Mas tb acho que você mal ia ver, né?!

    Graças a Deus que ela está melhor, mulher!
    Um rito mesmo, pra família toda.
    Lindo ver o protagonismo de vocês, essa família tá linda.

    Dá um xêrinho na Malu linda por mim, tá?!

    Abraço apertado!

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    1. Também foi tudo tão rápido. Nem imaginei o que viria pela frente. Dá angústia ainda só de olhar as fotos!
      Mas ainda bem que agora são só isso, fotos. Maluzinha chega nos 3 meses com a produção de anticorpos e fofura a todo vapor. Hahaha
      Pode deixar que dou o xêro nela!
      Beijos e que barriguita é aquela já???? Ainda vou comentar!

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  4. Ô, mulher. Que dor no coração. Que dó da Malu.
    Que bom que ela ficou bem. Que bom que vocês fizeram dessa experiência mais uma oportunidade de evolução.
    Mas podiam passar sem essa. Ah, se podiam. :(

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    1. Ai Nana...foi uma prova de fogo, sabe? Vê-la sofrer daquele jeito nos deixou em carne viva.
      O negócio é tentar mesmo tirar algo de bom disso tudo, o que não quer dizer que estejamos prontos pra outra. Credo...não mesmo. Beijos, amiga!

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  5. Afê mermã! Chorando, apenas.
    Grazadeus Malu melhorou.

    Tu tem escrito do útero pra fora. E aí, os ritos de passagem que são de vocês, viram nosso também (e/ou despertam os nossos).

    Malu te pariu mãe, pariu José pai, pariu Meg irmã mais velha, me pariu tia de tão-tão distante morta de preocupada e que espera ansiosa por fotos novas e fofas no IG e pariu todo o mundo.

    Muita vida essa bichinha réa botou pra fora em três meses, viu!?

    Parabéns Malu, continue nos parindo e nos ensinando a gastar a vida!

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    1. Nhow Ju!
      Adoro "escrever do útero pra fora" <3
      Ela tem 3 meses só, mas todo dia é uma vida nova pra administrar e aprender com.
      Agora é respirar e seguir pra próxima etapa.
      Obrigada pelo carinho de sempre!

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  6. que dor, que dó da pequena!
    mas que bom que tá melhorando, Deus cuide de vocês.

    fiquem bem

    beijo

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    1. Dó mesmo, Cacau :(
      Mas ainda bem que passou. Passou, passando. :D
      Beijo em ti e no João!

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  7. Ai, graças a Deus que a Maluzinha está melhor agora! Imagino o sofrimento que vcs passaram! Fiquem com Deus! Beijão!

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    1. Foi sofrível mesmo, Talita. Tenho chorado muito ultimamente, mas esse foi um choro de dor mesmo.
      Ainda bem que passou e que ela está mais fofa que nunca.
      Obrigada pelo carinho, querida! <3

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  8. Guria que judiação!!! Só imagino a tua agonia, mas agora ela tá bem e vocês terão um ótimo fim de ano gelado (aqui também tá uma friaca). Se cuidem muito, beijocas

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    1. Judiação mesmo! Essa é a palavra certa. Agora tá tudo acabado. É respirar e seguir em frente (na friaca!).

      Beijo nas moçoilas mamíferas!

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  9. Conheço a sua dor, passei igual ha 10 anos atrás pensei que nunca mais passaria de novo e hoje me encontro novamente com meu filho internado com Bronco Espasmo e Pneumonia. Como dói ver ele no oxigênio, tomando tanta medicação. O que me conforta é que Deus esta cuidando dele e eu creio na cura . A nossa esperança é Jesus!!

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