quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

100 dias

Daí que ontem, redondamente ontem, completamos 100 dias de maternagem, paternagem e filharagem. 100 dias (des)construindo uma imagem, passando valores, recebendo lições, revendo conceitos, aprendendo, errando, reaprendendo e errando mais uma vez para tentar acertar adiante. O certo é que estamos aqui, lindos e loiros   saudáveis prontos (ou nem por isso) para a próxima fase.



Dizem que tal como ocorre na gravidez, o desenvolvimento dos bebês fora da barriga é dividido por trimestres. Levando em conta essa teoria, fechamos o primeiro. O intenso primeiro. Não que eu ache que os outros serão mais tranquilos, mas o primeiro é sempre o primeiro. Tem aquele sabor de primeiro, aquele frio na barriga, aquele "Não sei o que é isso. Pare o mundo que eu quero descer" e o natural "Será que é normal?". Seja lá o que vier pela frente, 3 meses foi um bom período para desenvolver minha autoconfiança. A primeira vez que tivemos de sair com a Malu foi absolutamente assustadora. Ela tinha 4 dias, fazia um calor e depois começou a ventar loucamente. Eu tinha os pontos ainda e muito medo de tudo. De andar rápido e o carrinho sacolejar demais, da poluição, dos carros, dos tambores de lixo, dos vírus que as outras pessoas carregavam. Esqueci os documentos que deveria ter levado. Foi estressante e achei que nunca fosse dar conta de fazer aquilo de novo. Fiquei tão freak que chegamos em casa e fui logo dar banho nela. O José dizia que eu precisava relaxar. E eu relaxei. Fui relaxando. Aprendi a me preparar para sair com ela, a verificar infinitas vezes se coloquei tudo na bolsa, a escolher a roupa no dia anterior e confirmar os horários. Faço-o muitas vezes sozinha, inclusive. Aí a Super Naruna entra em ação carregando bolsa, cadeirinha, bebê eventualmente fora da cadeirinha e alguma manta aleatória. O celular sempre toca nesse momento crítico. SEMPRE. Nesse meio tempo, já tivemos que sair com ela para resolver burocracias, médico ou simplesmente dar uma volta porque eu amo estar em casa, minha gente, mas tenho meus limites. Estive tanto tempo trancafiada com meu medo besta que reformaram uma rua inteirinha na Baixa e eu nem tinha me dado conta. Para mim, o reaprender a sair de casa foi um obstáculo pessoal que vem sendo vencido, sem muitos abusos, claramente.

Em 3 meses, há que também passar a entender os sinais do bebê. Com umas 2 semanas de Malu, o José me perguntou se eu já sabia identificar os motivos dos choros e eu respondi receosíssima que ainda não. Sério que eu queria ser a mega tradutora de choradeira aos 15 dias? Até hoje não tenho muita certeza do que cada um significa. Recorro mesmo à checklist: fome? fralda suja? mimo? tédio? O único infalível e inconfundível é o do sono. Essa minha filhota tem uma relação muito objetiva com o sono dela. Se atrasarmos o ritual da noite, ela embirra totalmente. Chora até seu problema ser plenamente resolvido, leia-se banho, pijama e mama até cair pro lado. As sonecas do dia, se não forem respeitadas, é um deus-nos-acuda. Ela começa logo com um nhaaaaaaaim. Esse nhaaaaim quer dizer "me ponha pra dormir agora ou eu vou começar a gritar infinitamente".

Fora os clássicos, no geral, a Malu chora muito pouco. Muito pouco mesmo. Há dias em que ela sequer chora. Só resmunga e eu já descubro logo o motivo. Mas se você for médico, enfermeira ou alguém estranho, be careful. É melhor se aproximar com muito cuidadinho, sem vozinha cheia de frescura ou ela abre logo o berreiro. Isso vale também para troca de roupa. Devia ser proibido bebês viverem no inverno. Calculem um acidente de cocô onde é preciso trocar body, meias, blusa, calça e casaco sob a amena temperatura de 5ºC. Ninguém curte, né? Mesmo chorando muito pouco a meu ver, as pessoas adoram me perguntar se ela não usa chupeta. Não, minha gente, ela não usa. Vou fazer um mea culpa aqui e dizer que cheguei a oferecer. Num dia particularmente difícil, ali por volta do 1 mês e meio, cedi às pressões da sociedade e resultado? Ela abomina. Olha e já começa logo a tossir, chora ainda mais e faz caretas. A chupeta existiu cá em casa por umas 3 semanas, até que a Meg comeu-a. Qué dizê, morreu menina chupeta. Agora só chupeito mesmo e tem funcionado.

Falando em peito, foram e têm sido 100 dias de muito. Livre demanda demandando, mandando e desmandando. São 7kg e 61 cm aí provando que leite fraco é a pqp. Isso tudo tem me rendido muitos elogios onde quer que vá. No hospital que a Malu ficou internada, virei tipo celebridade da amamentação. Ninguém acreditava que essas dobrinhas todas provém só da mama. Os pediatras andaram até discutindo o caso no café (???). Bate aquele orgulhinho de si e da cria, mas chego a ficar triste também por algo tão natural causar tanta surpresa. Durante a internação, só conheci mais uma mãe que amamentava, e olha que passei por várias. Aí que com a livre demanda, eu nunca sei que horas a Malu come, por quanto tempo e qual o intervalo entre as mamadas. Os enfermeiros não entendiam isso. Aí que com a livre demanda, perdi a vergonha de fazê-lo em público. E não coloco mais fraldinha por cima não. Vocês curtem comer com um pano na cara? Por que é que a Malu curtiria? Aí que já fui gentilmente censurada por isso. Disseram que eu deveria me "preservar". OH REALLY? A amamentação, se em público, tem uma carga tão sexual que dá o que pensar. Ando sinceramente até pensando em rever o tema da minha tese no mestrado.

Em 100 dias, teve pico de crescimento, salto de desenvolvimento, roupa ganha, roupa perdida, sorriso pra dar e vender, baaaaaaaaaaaba, muita baba, dedinhos curiosos apertando a nossa cara, a nossa roupa, os brinquedos, um converseiro danado (agu, abu, uh uh, aaahh, ehhhh, aaaaai, nhãe e coisas afins), uma afinidade com a Meg (prevejo puxação de rabo para breve. anotem.).

Eu (antes de ter um) achava que os bebês só tinham graça quando ficavam maiores, já sentando e tudo. Mas eu me divirto com a Malu todo santo dia. Ela respira e eu gargalho que nem uma abestada. Dizem que isso é amor. Deve ser um amor parecido com o que vejo nos olhos do José quando ele olha para ela. Sabem, é bonito amar, mas ver o amor nos outros é lírico, uma coisa meio idílica.

E eu nesses 100 dias? Eu definitivamente mudei e continuo sendo a mesma. Eu tenho impulsos de super mãe, super mulher, mas sei que não sou uma coisa nem outra, sigo fazendo o melhor. Eu já tive muita vontade de voltar a trabalhar e engoli o choro durante uns dias. Ainda tenho vontade, ainda tenho saudade, mas cada coisa a seu tempo. Tenho uma fome de me deixar com os nervos a flor da pele e quilos de cabelo começaram a cair (alou, prolactina!). Tenho ups e downs com o meu corpo. O peso é o mesmo, mas as curvas e formas são outras. Isso me deixa aflita às vezes. Penso todo dia que vou pintar as unhas assim que ela dormir. Apenas penso. Tornei-me uma criatura quase monotemática. Quase. Tenho ímpetos de fúria ao ver as pessoas na rua olhando para o meu lindo e redondo bebê (???). Sério, fico meio possessa achando que elas estão transmitindo más energias. Nóias. Tornei-me uma leitora lenta. Ganhei uns vícios estranhos tipo checar o nariz dela a cada meia hora, tal como analisar o conteúdo da fralda minuciosamente pra ver se tá tudo ok e deixar ela me babar a cara. O José acha essa parte particularmente nojinho. 



Apesar de costumeiramente buscar segurança, sempre tive um apego também com o futuro. Sempre achei que amanhã vai ser melhor e que os problemas vão se resolver magicamente e plim!, that's all, folks. Relendo esse texto e fazendo um backup expresso desses meses, noto que a primeira grande lição, habilidade ou seja lá o que for que a maternagem me trouxe foi apego ao presente, aos 30 minutos de sono e depois não sei. Atualmente eu tenho uma séria dificuldade em mentalizar que dia da semana é hoje, qual a data. Fica tudo num plano meio paralelo. O conceito de tempo meio distorcido. No meu calendário válido só tem uma marcação: agora. Daqui a 100 dias, quando for agora outra vez, a gente conversa mais sobre essa coisa de quanto tempo o tempo tem.

7 comentários:

  1. Ain, como vocês são lindos!!
    Eu estou aqui no primeiro trimestre da gestação e me sentindo muuuito um recém-nascido em alguns momentos. É difícil pra caramba essa coisa toda de hormônios e sintomas transbordando por todos os lados. Mentalizo que preciso ter paciência e saber ouvir esse bebê quando nascer, porque sei, em partes, que não é fácil.
    Muito bom ler a parte prática, que passa, que melhora, que é uma delícia, mesmo surtando também, haha.

    Textos cada vez mais lindos, oh god!!
    Beijão em vocês!!

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    1. Tu usou mega blaster bem a expressão recém-nascido, Má! O primeiro trimestre da gravidez e do bebê são bem similares no quesito profusão hormonal-sentimental. É o início de tudo. E que início! Nada nos prepara melhor que a prática. Tempo vai, tempo vem e a gente acaba nem se dando conta de quando foi que tudo melhorou. Mas é certo: melhora!
      Um beijo gigante nosso!

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  2. Babando aqui na Malu! Que menina linda, cheia de vida e amor. Estams na metade hehe acredito que nese meio caminho, comparado com vcs, já deu para aprender muito. Minha esposa tem seus acessos de querer advinhar o motivo da incomodidade de Zoe, mas descobre que há muito chão que percorrer :D bjs

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  3. É o Jose na foto? Bacana "conhecê-lo", poucas expõem ao pai em seus blogs :D Prazer! Ah, e essa foto perto do trem, que linda!

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    1. Apertei sem querer e tô completando.. Vivo 25hs pensando na segurança e por isso me mantenho ainda nesse continente. Acredito num mundo melhor dentro do nosso mundo. As vezes penso no filme "O Terminal": "eu não posso ter medo de minha terra". bjs

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    2. Impossível não pensar em segurança, né, Jorge? Tenho medo até de ficar extra paranóica. São tempos esquisitos, mas não dá pra viver com medo e acabar passando mais medo adiante. Não dá pra criar reféns.
      Ali é o José sim! Autor das fotos, aliás, exceto a que ele aparece. José é uma grande persona oculta no blog. Uma hora, tinha que dar as caras. Hahahahaha
      Ai, a nossa mania de querer adivinhar o que se passa com eles! Chega a ser aflitivo não saber se está fazendo a coisa certa. Os acessos da Kate são acessos típicos de mãe. Eu que o diga! É como dizem, o caminho se faz caminhando. Uma hora a gente acerta e entra naquela fase de ler o pensamento da cria só com o olhar.


      Beijos na família, Jorge!

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  4. Ai, quanta coisa pra comentar, Naruna! Adorei o post, me senti pertinho de tu, acompanhando tudo como se estivesse presente! A tua princesa é muito linda, muito fofa, muito tudo! Desejo mesmo que você continue sendo essa super mãe pra Malu! Parabéns pelos 100 dias! :)

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