sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"...ela disse adeus..."



Hoje, 7 de novembro de 2014, fui deixar a Malu na creche e ela me deu tchauzinho. "Diz xau à mãe" e lá ela acenou. Acenou e sorriu com tanta convicção que não havia dúvida, era a hora de eu descer as escadas e vir embora. Vim com a certeza da certeza de todas as certezas do mundo de que ela ficaria bem. Vim e chorei, pela segunda vez desde que começamos nessa empreitada. A primeira foi ao acordá-la para o primeiro dia, há coisa de um mês e meio atrás.

Já há algum tempo eu tinha como meta retornar ao mercado de trabalho quando a Malu completasse um ano. Não era nada mandatório, nada que tivessem me dito para fazer. Era o que eu achava que seria bom para as três cabeças e corações cá de casa. Cheguei a "descogitar" e tentar sabotar a minha deadline, pensei em continuar full time mom por mais um, dois, três anos, mas os últimos meses antes do ano completo foram verdadeiramente complicados. Eu mergulhei na maternagem sem saber nadar e tomei com muitas ondas na cabeça. Várias. Achei que o ideal seria ficar mesmo submersa, sem deixar a cabeça emergir porque "debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido". Mas esqueci que "só faltava respirar, tinha que respirar". Respirar não era deixar de ser mãe, não era ser menos mãe da Malu, era ser só mais um bocado eu, seja lá quem eu seja depois disso tudo. Eu queria mesmo voltar a trabalhar. Eu precisava mesmo voltar a trabalhar. Pelo financeiro, pela sanidade, pelo, pela.

Uma semana depois do nosso primeiro aniversário, comecei a enviar currículos e a creche tornava-se mais urgente, mais presente, mais palpável. Mesmo sem a certeza de nada, achei que ela deveria iniciar a adaptação. Uma separação brusca, assim do dia pra noite, poderia deitar tudo abaixo.

Saltando os pormenores burocráticos de procura por um lugar, preenchimento de papelada, visitas e conversas com diretoras, educadoras e auxiliares, chegava o primeiro dia. Ficaria por 2h30 e esse tempo aumentaria gradualmente até o horário mínimo das creches públicas de cá (6 horas). Conferi a mochila milhares de vezes. Fraldas, toalhitas, mudas de roupa. Era pensar para não pensar.

Acordamos naquele dia e eu fui explicá-la para onde iríamos, o que iria acontecer e que eu iria buscá-la depois daquelas horas. Expliquei e chorei, baixinho, a querer não tentar que a voz ficasse muito diferente. Chegamos e a educadora recebeu-nos com o melhor sorriso de boas vindas que ela deveria ter. A Malu foi ao colo dela, mas não sorriu. Despedi-me dela a sorrir, a dizer que ia buscá-la mais logo. Não sorriu, não chorou. Foi pelo corredor, eu a olhar pela porta de vidro. Não sorriu, não chorou. Não sorri, não chorei. Cheguei à casa e tinha aquelas 2h30 para limpar o que fosse e não pensar. Dada a hora, estava eu em frente à porta de vidro mais uma vez. Veio a Maluzinha a sorrir. Ficou bem, brincou, já tinha até almoçado e tirado um cochilo. "Afinal, isto não parece tão mau!". Fui cheia de confiança ao segundo dia, mas aí não correu tão bem. Ao ver a educadora, agarrou-me a blusa e chorou tanto. Eram lágrimas tão sentidas e cada uma delas navalhava o meu coração, assim dramaticamente mesmo. Foram assim todos os dias a seguir. Pensei que devia ser a maior asneira que eu tinha feito e cogitei desistir, mas ao mesmo tempo tentava passar-lhe segurança, dizia que iria sempre buscá-la, que não iria deixá-la. Curiosamente, apesar de deixá-la ser sempre devastador, levava-a pra casa absolutamente bem disposta, sem parecer que tinha passado horas a chorar (segundo as educadoras, nunca chorou mais que 10 minutos, mas na minha cabeça pareciam horas). E era nesse estado de espírito que me apegava, tentava pensar que claro que a separação era mais dolorosa e que depois disso sim, ela ficava bem.

Quando as coisas pareciam estabilizar, veio a maré de doenças. O último mês foi todo assim. Para cada uma semana de creche, era uma semana e meia em casa a recuperar de virose. O José ficou novamente muito doente. Ela melhorou, foi mais 3 dias para a creche e adoeceu outra vez por mais 5.Todos diziam que era normal, que era assim mesmo, que o organismo dela ainda estava muito indefeso. A mim não me parecia normal, não me parecia saudável tantas doenças em onda. Devia ser um sinal de que eu estava a fazer errado. Imagina se eu estivesse a trabalhar e ela ficasse doente, como seria? Ficaria fora do trabalho uma semana inteira? Se não, com quem deixaria? Incontáveis são as mães que passam por isso e trabalham e tocam a vida. Por que eu não haveria de conseguir? Por que eu estava a encarar a creche como uma vilã sendo que era a minha melhor aliada para eu fazer o que achava que tinha que fazer? Foi todo um contexto muito sensível e mais uma vez o apoio foi fundamental, especialmente o apoio de quem passou/está a passar pelo mesmo. Uma sempre ali a segurar a bola da outra...gratidão é o que tenho a quem esteve comigo nesse (mau) bocado.

Esta semana, depois de mais uns dias de repouso, tentamos retomar a rotina. Esperei o pior por causa dos dias afastada. Mas o pior não veio. Vi Malu a sorrir para as auxiliares, a "chamar" para que lhe fossem buscar, a mostrar a elas o boneco que tinha levado, a acenar para as outras crianças. A minha Maluzinha. Subimos as escadas juntas e hei de guardar na memória a felicidade dela ao ultrapassar cada degrau. Levo-a pela mão até a tal porta de vidro (acho que não contei aqui dos primeiros passos, pois não? :D). Não chora. Ri-se. Hoje, 7 de novembro de 2014, ela "correu" para os braços da educadora, deu-lhe um abraço, deu-me um beijinho e um tchauzinho. Passou pela porta de vidro, feliz. Desci as escadas, feliz. Estou orgulhosa de nós e daquilo que ainda poderemos fazer. Ela disse adeus e poderia não ser nada de especial, mas foi. Foi um adeus seguro, um adeus de "estou bem", um adeus de "Até já! Eu sei que virás me buscar". E irei. Irei e ouvirei que é uma menina muito alegre, muito carinhosa, que explora o ambiente, brinca sem precisar que estejam ao seu lado o tempo inteiro. A minha Maluzinha.

Dito isto, só hoje dou por encerrada a nossa adaptação. Recebi dela o sinal verde para seguir durante estas horas de separação. Não sinto-me a terceirizar a educação dela, não quero que ela vá para lá e aprenda inglês, quero que seja bem cuidada e acarinhada enquanto eu trato do resto.

Hoje, 7 de novembro de 2014, tive a certeza que todo o colo não foi demais, que todo o afago não foi exagero, que nunca estive errada quando dei-lhe a certeza. A certeza de que sempre irei buscá-la, de que vou, mas volto, e de que ela também sempre terá para onde voltar.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Um post honesto sobre amamentação

Vamos começar esse post com um exercício de imaginação. Preparados?

Imaginem as suas pérolas de bebês doentes depois de apenas 15 dias na creche. Chato, não é? Expectável, mas chato.

Agora imaginem as suas pérolas de bebês apanhando duas doenças ao mesmo tempo. Ai caramba! Super chato!

Puxem pela mente mais um bocadinho e imaginem bebês, papais e mamães doentes ao mesmo tempo, na mesma casa, uns passando vírus aos outros. Oh minhanossasenhora! Chato é favor!

Calma que estou quase a acabar...mas imaginem que o bebê começa a melhorar, retoma o interesse pela atividade qualificada de escalar móveis e os pais continuam a querer apenas morrer. Ui...

Então, tá. Beleza. Tudo estabilizado. Vamos restabelecer a rotina? Bebê na creche, mãe nos projetos, pai ao trabalho. Pensam que acabou, não é? Imaginem só mais uma coisa (juro que é a última!): o bebê tem uma recaída. Imaginaram tudo? Direitinho? Querem saber o nome do filme? "Minha vida na última semana". 8 dias de gripe AND virose, dos quais só a Meg escapou ilesa.

Malu andou aí praticamente em aleitamento materno exclusivo porque não aceitava mais nada. Com a virose, fiquei um dedinho à beira de desidratar, e o pânico da produção de leite cair? Felizmente não foi o caso. O José andou de baixa do trabalho...olha, levamos ao pé da letra o "na saúde e na doença". Lindo. Muitos lencinhos de papel, fraldas e "virulências" depois, acho que nos safamos. A-c-h-o porque, né, começou o outono. Outono numa creche rima com doenças de outono adquiridas na creche e passadas aos pais. Estou à espera daquela boa e velha catapora que não apanhei na infância, uma caxumba também quem sabe...Bichezas de criança pegas na fase adulta são sempre maravilhosas.

And that's it. Ainda não me sinto nadinha preparada para falar sobre esse processo da creche. É um ponto sensível. Por isso, vou adiar bem mais o post sobre esse assunto e presto-me a falar de outro, infinitamente mais útil: amamentação. Eu ouvi alguém aí que disse "de noooooovo"? Pois é, de novo. De velho. Mesmo com toda a informação exuastivamente compartilhada, há muito preconceito, ignorância e desatualização em relação ao aleitamento materno. Antes de tudo, deixo registrado que fala daqui uma mãe normal, que não tem super leite, que fica cansada, que perde a paciência por vezes e que tem limites, como é óbvio. Não encaro esses 13 meses de amamentação como um sacrifício não porque eu sou fodona ou fundamentalista, mas porque acredito fielmente que estou a fazer o melhor que eu posso por nós duas. Então, peço que guardem as palavras deste escrito no fundo do coração, sem amarguras, porque hei de escrever com honestidade.

Durante a gravidez, lembro de chegar ao consultório da médica com uma listinha de perguntas sobre a amamentação. 20 e tal semanas e já neurótica sobre o que eu poderia/deveria fazer para amamentar com sucesso. A primeira pergunta da lista era: devo beber mais leite? A médica foi muito enfática e disse que se eu achasse que sim, tudo bem, mas que isso em nada influenciaria o fato de eu produzir mais leite, que isso era algo que o meu corpo resolveria depois, já com o bebê fora da barriga. E mais não disse. Fiquei passada. Então era isso? Não posso fazer nada? Ela não fala mais nada? Saí de lá diretamente para uma consulta com o olho que tudo vê e tudo sabe: internet. Um erro e um acerto. Há que filtrar essa informação toda ou caímos em esparrelas que só visto. Sendo mais prática do que pragmática, vou abrir tópicos. Atenção: perguntas e respostas foram tiradas destes meses todos como amamentadeira e pesquisadora autodidata sobre o assunto. São questões que eu mesma já fiz ou que ouvi fazerem. Em algumas, falo um pouco sobre o que se passou comigo. Em outras, respondo baseada em evidências. Claro que cada um tem a sua experiência e isso é absolutamente particular.


Perguntas que eu já fiz/pensei em fazer/deveria ter feito sobre amamentação


Estou grávida e quero muito amamentar. O que posso fazer para ter sucesso?
Em termos físicos, nada. Não há comprovadamente qualquer coisa que prepare o corpo para produzir ou ter mais leite (exceto a gravidez em si). Não existem evidências que comprovem o uso da bucha vegetal ou do sol nos mamilos para "fortalecê-los". A bucha, aliás, é muito questionável porque pode produzir o efeito contrário e sensibilizar a zona (que já estará muito sensível...ai os hormônios). O sol...hm...sinceramente não sei. Há quem tenha feito o "bronzeamento mamilar" e disse que ajudou a proteger contra as fissuras e tal...eu, particularmente, não usei desse artifício e não cheguei a ter fissuras. Considero a preparação mental muito importante. Ler, informar-se e cercar-se de apoio. Isso sim! O resto é o resto.


Estou aflita. A prima da cunhada do vizinho do meu tio disse que durante a gravidez começou a sair leite. A mim não saiu nada até agora. Já tenho 35 semanas! Será que não vou ter leite?
Keep calm, amiga! Isso não quer dizer nada, mas nada mesmo. Existem corpos e corpos, gravidezes e gravidezes. Algumas mulheres têm escape de leite durante a gestação, outras não e isso não quer dizer rigorosamente nada sobre a produção pós parto. Não me saiu nada, nenhuma gota, de verdade. Aliás, meu leite só desceu no quarto dia depois do parto. Antes disso, era só colostro, importantíssimo nessa primeira fase!



Minha avó disse que não vou ter leite porque meu peito não cresceu quase nada. E agora??
Anotem: tamanho de peito NÃO tem a ver com quantidade de leite. Os seios são produtores de leite e não depósito. É normal acontecer algum inchaço durante a gravidez e depois do parto (com a descida do leite), mas isso é bem relativo. O corpo é muito sábio e único. Não dá pra comparar o seu com o da fulana. No mais, é esperar pra ver e não ficar se martirizando. Aliás, essas pressões psicológicas são do pior e o que verdadeiramente compromete a produção de leite.


Não formei bico do peito. Estou conformada pois não vou conseguir amamentar...

Quem te disse isso, mulher? Reitero: cada corpo é único. E sim, há mulheres que não formam o tal bico do peito ou os têm invertidos (para dentro). É um caso que exige mais dedicação? Sim. É impossível? Não. No caso dos mamilos planos, a preocupação deve ser fazer o bebê abocanhar a auréola toda (aliás, isso deve ser a preocupação de todas, pois abocanhar a auréola é o que define uma boa pega). No caso dos invertidos, diz-se que quando o bebê suga, o mamilo salta fora. Há mães que usam uma bomba de sucção para fazê-lo sair antes da mamada. Em ambos os casos, procurem ajuda. "Ai, a fulana disse que não conseguiu e que também não vou conseguir". Procurem segundas opiniões, experiências. Existem muitas mães que amamentam durante muito tempo nessas condições. Talvez exija mais paciência, mas não é impossível de todo.


Se meu bebê nascer de cesariana terei problemas com a produção de leite?
O que pode dificultar é aquela separação abrupta depois da cirurgia. Levam o bebê para o berçário e reaparecem com ele horas depois. Por que isso é um problema? Porque nessas horinhas ele fica com o reflexo de sucção mais comprometido. É apenas uma situação, mas não é definitivo. Imagina se todas as mães que tivessem passado por cesariana não conseguissem amamentar...Pode é depois custar um pouco mais para fazer o bebê pegar. Nessas horas de berçário já podem ter dado a famosa mamadeira...O que já acontece, aliás, o que deveria acontecer, era colocarem o bebê ao peito mesmo depois da cirurgia. Se ambos estiverem bem, não há evidências científicas que comprovem que esta separação abrupta é mandatória (separação esta que também tende a acontecer em partos normais, atenção!).Ao que parece, ela é apenas protocolar, como várias outras coisas dentro da realidade dos hospitais...Não vou entrar no mérito da questão. Apenas saibam: podem surgir essas questões, o leite pode demorar um pouco mais a descer...pode. Não é regra e não há nada que impeça a amamentação aqui. Vejam bem, tive parto normal, ficamos em alojamento conjunto e mesmo assim o leite demorou 4 dias a descer. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.


De quanto em quanto tempo devo dar de mamar?
Ora vejamos...sempre que o bebê quiser? Livre demanda sempre! Parece que estamos a assinar um tratado de escravidão quando se fala em dar o peito sempre que o bebê quiser. Sinceramente, existem coisas beeeeem piores. Para mim, a hora da mama foi sempre aquela em que eu podia estar ali sentada uns segundos que fossem. E quantas vezes a Malu mamava? Trocentrilhões. Quantas vezes a Malu ainda mama? Trocentrilhões. Nos primeiros tempos, a livre demanda é fundamental pra regular a produção. Um recém-nascido tem um estômago do tamanho de uma noz mais ou menos. Ele mama, evacua, faz xixi e já tem fome de novo. Esqueçam os relógios. Esqueçam.


O que fazer para ter mais leite?
Deixe o bebê mamar! Não há nada mais eficaz para aumentar a regular a produção do que a livre demanda. Quanto mais o bebê mamar, mais leite será produzido. Fora isso, beba água. Bastante. Se calhar, é até desnecessário eu dizer isso porque amamentar dá muita sede (e fome!!!!!). Outra coisa: o leite é produzido na sua cabeça, sabia? Stress, tensão e preocupações bloqueiam e fazem a produção cair. Portanto, foco em você, foco no bebê.


Socorro! O meu bebê só chora! Será que não tenho leite suficiente???? Será que meu leite não alimenta??? Meu marido disse que é melhor ir comprar suplemento!
Anotem mais essa: NÃO existe leite fraco! Repetindo: NÃO existe leite fraco. O seu leite alimenta sim, o seu leite é muito bom sim. Bebês choram por tudo e por nada. Ele vai ao peito direitinho? Pega bem? Dorme meia hora? Parabéns! É muito! Pode ser sempre fome e pode ser outra coisa qualquer. Lembrem que, além de alimento, estar ali nos braços da mãe é o melhor conforto de sempre pra um bebê. Ah, e sobre o seu marido: ligue o foda-se (desculpem, crianças!).


Minha vizinha veio aqui em casa e disse que meu bebê está sempre a mamar, que isso é muito ruim, que vai ficar viciado. Será verdade?
Olha que essa me dá cabo da cabeça...pior é ouvir do médico. Porque há médicos que dizem que existe o tal "vício da mama". ALÔU! Mas isso é heroína que nos sai do peito? Já existem estudos sobre? Amigan, viciado é esse pensamento. Sabe o botão que você ligou pro seu marido? Ligue pra vizinha também. Não existe bebê viciado em mama. Mas afinal, se existisse, era o melhor vício que se podia ter.


Que alimentos eu não posso comer estando a amamentar?
Já li muita coisa sobre e o meu conselho é: bom senso. Tenha bom senso. Considerando que está a amamentar e que isso implica um gasto calórico altíssimo, tem que comer bem. Não lembro de, em momento algum, chegar a evitar aquelas coisas que todo mundo diz que são más, tipo chocolate. Na primeira semana pós parto, já estava acompanhada de uns tabletes. A Malu nunca reagiu mal. A questão é ser cuidadosa e saber que o que se ingere passa pro leite sim, sob pena de alterações de sabor a depender do alimento. De sabor e de humor! Por exemplo, depois das 18h, eu não bebo mais café porque isso deixa as nossas noites alteradas. Também praticamente o leite de vaca, mas ainda consumo os derivados, uma vez que a Malu não é alérgica. Há que conhecer o vosso corpo e o vosso filho.


E medicamentos, posso tomar?
Essa é uma pergunta recorrente e acho que das mais "mitadas" de sempre. Existem imensos medicamentos, anestesias, substâncias seguras com a amamentação. Muito, mas muito raramente mesmo é preciso deixar de amamentar para tomar qualquer coisa. Como saber? Entre no e-lactancia, digite a substância ativa/nome do medicamento e veja o risco real. É um site confiável, atualizado, gerido por profissionais e que toda mãe amamentadeira deveria ter no seus favoritos. Acho que é, possível, inclusive saber do nível de risco de procedimentos como depilação a laser.



E se eu achar que há alguma coisa errada, o que devo fazer? Ligo ao médico?
Agora eu posso soar um bocado pedante, mas, em relação à amamentação, o médico deveria ser a última opção. Sente que algo não está bem? Procure um Banco de Leite, uma conselheira de aleitamento materno. São locais e pessoas especializados e orientados para lidar adequadamente com situações relacionadas à amamentação. "Ai, mas os médicos estudaram para isso..." PÉIM! Errado. Os pediatras e obstetras têm pouquíssimas horas de estudo sobre amamentação quando comparados com uma conselheira. O conhecimento é, muitas vezes, obsoleto e as orientações, do século passado. Maaaaaaaas, se você realmente sente-se segura com o médico, vá em frente. Acha que é caso médico, urgente, seríssimo? Não hesite.


Minha irmã disse que, agora que o meu bebê começou com os sólidos, eu não posso dar de mamar logo depois dele ter comido porque o leite atrapalha a absorção de ferro. Isso é verdade?
Não, senhora. O leite materno NÃO atrapalha a absorção de ferro. Essa orientação vale se estamos a faltar do leite artificial. Como, ao fim e ao cabo, é derivado do leite da vaca, tem um nível de cálcio alto. Cálcio este que, sim, atrapalha a absorção de ferro.


Sinto os meus seios mais murchos, não enchem mais como antes. Estou a ficar sem leite?
Lembram do que eu disse anteriormente? Peito é fábrica de leite e não depósito. Depois que o corpo aprende a regular a produção, qual a necessidade de ficar enchendo o peito? Ele sabe quanto o bebê vai mamar e aquilo começa a ser produzido na hora que ele encosta a boca. <3 Imagina que horror ficar vazando leite meses e meses? O corpo é sábio, acreditem!


Como sei que o meu filho está mamando o suficiente? Ele quase não aumenta de peso...não é gordinho como os outros...
Primeiro de tudo, confie no seu leite. Lembra que não há leite fraco? Pois. Vou repetir só mais uma vez. Não há leite fraco. O ritmo de engorda/crescimento dos bebês não é igual, longe disso. Não é igual e nem linear. As tabelas e curvas de crescimento não muito relativas. Há que levar em conta o histórico do bebê. Afinal, ele é uma pessoa e não um conjunto de números. Ele é ativo? Bem disposto? Molha muitas fraldas durante o dia? Então aparentemente está ótimo! Mesmo que ganhe pouco peso, é normal. Pode ser o ritmo dele. Se não estiver a perder peso, não há razão para preocupação a princípio.


Quando devo desmamar? O médico disse que meu filho, com 15 meses, já está muito grande para mamar e que depois de um ano não há qualquer benefício no leite materno.
Primeiro, desmame quando você e seu filho quiserem. Segundo, vamos mandar esse médico ir pastar com as vaquinhas? A OMS preconiza o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais. Não sou eu que estou falando e nem a dona Maria da quitanda. É a OMS. Uma entidade séria, atualizada e que prega a medicina baseada em evidências científicas. Eles devem saber bem o que estão a falar, não? Leite não vira água depois do primeiro aniversário, antes o contrário. A composição altera-se e passa a ser um complexo nutritivo que continua a ser muito importante no desenvolvimento da criança. Há um medo de criar bebês dependentes, um trauma de que eles andem sempre agarrados à barra das nossas saias . Veja bem, estamos a falar de bebês, não de marmanjos de 18 anos que ainda mamam. Ninguém tem rigorosamente nada a ver com o vosso desmame. Será a idade que vocês acordarem. O resto é resto.


Depois desse palavreamento todo, ninguém deve ter dúvidas de que eu sou defensora inegável do aleitamento materno. Defendo-o, defendo-o e defendo-o, além de praticar em casa o que prego aqui. Nem sempre a coisa corre bem, nem sempre conseguimos resolver os problemas de pega sozinhas. É preciso reconhecer quando se precisa de ajuda e saber onde procurar. A quem acompanha ou cerca uma mulher que amamenta: custa tanto assim apoiá-la? Custa tanto abraçar a escolha dela ao invés de apontar o dedo porque o bebê é muito "magro"? Custa tanto não ser desagradável e julgá-la por amamentar sem horários? Já há muitas coisas que temos que ouvir de desconhecidos, tudo o que queremos é que quem esteja ao lado nos apoie.

O mundo anda muito imediatista e isso vale para tudo. Os efeitos de amamentar não são imediatos e nem isolados. A obesidade é evitada a longo prazo, os riscos de diabetes são minimizados a longo prazo, o risco de câncer do útero para a mãe é reduzido com o tempo. Não será amanhã que todos os efeitos irão aparecer em onda e isso ensinou-me muito sobre a máxima "aguarde e confie".

Não acho, nem de longe, que eu sou maior, melhor e mais completa por ter escolhido e persistir amamentando. Veio no meu pacote e é algo que faz parte da minha vida. Da nossa vida, aliás. Tenho dias de impaciência completa, dias em não me apetece nada estar disponível. Amamentar é ter de estar quase sempre disponível física e mentalmente. É muito pouco aquela aura cândida e angelical das propagandas e muito mais real, tão real quanto todas as outras nuances da maternidade. Há pouco tempo, com a entrada da Malu na creche, vi-me extremamente preocupada e antecipadamente culpada. Achei que seria brutal para ela a separação, que não conseguiria tirar as suas sonecas sem mamar e que sofreria infinitamente. Para a minha surpresa e confirmação de tudo o que eu defendo, Malu adormece sozinha desde o primeiro dia sem stress, brinca sem precisar que fiquem o tempo todo ao seu lado e faz todas as refeições lindamente. Essa mesma Malu, criada a peito e colo em livre demanda, que ainda mama durante à noite e todas as outras vezes que quer quando está comigo. Veem como estou a criar um ser visivelmente dependente? :)

Não vou me alongar mais. Acho que já há muito dito. Acho fundamental que as mulheres e famílias informem-se, atualizem-se e não deixem-se levar por achismos ou opiniões dúbias, seja qual for a escolha, seja qual for o caminho.Vou deixar alguns links que sempre me foram muito úteis e que podem ajudar mais algumas cabeças.

Manual de Aleitamento Materno da Unicef
Recomendações da OMS
La Leche League
A cólica - por Dr. Carlos González (esse é pra quem acha que é sempre fome!)


13 meses, alguns dias de pouca disponibilidade e um saldo positivo, até o momento

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

"Eu voltei...

...e agora é pra ficar
porque aqui
aqui é o meu lugar"

Juro que senti saudades.
Juro que não senti.
Juro que pensei em voltar 897 vezes.
Juro que pensei em não voltar outras 489.

Mas voltei, sabe? Voltei porque este blog deu-me imensas coisas e era injusto deixá-lo em suspenso. Voltei porque aqui que é aqui e ora nem mais!

Nesse break de 3 meses e uns quebrados aconteceram mundos e fundos. Serei incapaz de relatar aqui pormenores. De longe, o maior acontecimento foi o aniversário de um ano da Malu, meu aniversário e do José como pais. Um ano, meus caros. Um ano inteirinho. 365 madrugadas de loucura e amor nas quebradas. Um ano de colo e peito em livre demanda. 

Não somos os mesmos. Nenhum de nós, nem a Meg. E vai soar o maior dos clichès, mas amadurecemos juntos sim. Vocês estudaram em Biologia que quando se põe uma fruta madura junto com outras verdes, elas acabam por amadurecer também? Pois. Foi isso. Somos 4 frutinhas em simbiose.

E sabe o que mais? Vim dizer que voltei, mas por hoje that's all, folks. Amanhã a Malu começa a adaptação na creche. Os pensamentos estão assim meio anuviados. Tenho uma madrugada inteira pra fazer a minha adaptação também.

Fiquem comigo. Segurem na minha mão, tá?

quinta-feira, 12 de junho de 2014

(Temporariamente) Fechado pra balanço

Então, gente. 
Estou precisando por ordem na casa, no blog, na vida.
Por isso, vou fazer um ~~intervalo comercial~~ por aqui e volto. Daqui a dias, semanas, meses, não sei. Mas volto. Aliás, voltamos.
Zamigue blogueiras, continuarei a ler todo mundo e eventualmente comentarei se/quando a Malu deixar.
Nesse meio tempo, estarei aí vagando pelas redes sociais, caso queiram saber da piscina, da margarina, da Carolina e da gente.

Um beijo nos coraçõezitos e nos babies. 
Voltamos já.


terça-feira, 3 de junho de 2014

Saindo sem a Malu

Daí que menina Malu fez 9 meses no sábado. Uma mocinha, uma adultinha. Era chegada a hora, o momento, a emancipação. Vou sair sem ela. Para onde? Como? Quando? Cabeleireiro? Fazer as unhas? Tarde de compras? Fazer um curso? Claaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaro...que não. Fui ao médico. MAS NÃO É SÓ APENAS ISSO. Fui fazer exames também! :OOOO Como eu consegui? Como sobrevivi? Leia agora, nas linhas abaixo.

A última consulta que eu tive foi 40 dias depois do parto. Achei que era hora de marcar uma de rotina, fazer análises, checar taxas, ver se está tudo nos conformes. Afinal, tenho uma criança aqui pra tomar de conta e não estou podendo morrer. Para tudo. Chamem a minha mãe pra ler isso. Mãe, olha eu responsável. Olha eu indo ao médico sem precisar que ninguém me obrigue! Olha eu adulta!

Então, marquei com certa antecedência e pedi ao José que ficasse com a Malu para que eu pudesse ~~me concentrar na consulta~~. É sério. Era capaz de esquecer até porque eu tinha ido lá. Ele avisou no trabalho e foi. Ficou com ela no carro enquanto eu era atendida. Prestem bem atenção. Entrei no centro de saúde sozinha, pela primeira vez em 9 meses. Sem bebê, sem cadeirinha, sem sling. Peguei o elevador sozinha. Fui à recepção sozinha e sentei na sala de espera sozinha. Uma senhora chegou, deu bom dia e eu tive vontade dizer "Bom dia! Tenho essa cara, mas sou mãe e minha bebê está lá fora. Ela tem cinco dentes. Quer ver uma foto?". Mas respondi só "bom dia" mesmo. Fui chamada. "Senhora Romana Vieira, gabinete 13". Chamaram meu nome, vocês acreditam? Não foi "Malu Silva", foi "Romana Vieira".

Malu, aparentemente sofrendo muito com a minha ausência
Papo vai, papo vem na consulta. Falei tudo. Pedi uma consulta com o oftalmologista. A médica me achou muito magra e pediu, além dos exames de rotina, outros pra investigar se eu tenho alguma desordem na tireoide. Acho eu que isso é alimentação bagunçada mesmo, mas ok. Aquele silêncio enquanto ela passa as receitas. "Saíram 5 dentes à Malu!". Qual a necessidade, né, gente? Ela é nossa médica de família, a Malu teria consulta dias depois e ela veria o raio dos 5 dentes. Qual a necessidade dessa minha obsessão com os dentes? Juro que foi incontrolável. 

Saio de lá. Tudo na mais perfeita ordem com José e bebê. No acidentes. No choradeiras incontroláveis. Tudo em ordem nesses 40 minutos inteiros que eu me ausentei. Isso queria dizer que eu podia ir para mais longe, mais além, mais adiante: poderia ir fazer os exames e deixar os dois EM CASA. 

Adiei dias. Até ontem. Coloquei despertador, levantei cedinho e deixei as belezocas dormindo. Coloquei os papelinhos todos numa bolsa. Ora reparem: UMA BOLSA. Não foi mochila cheia de fraldas. Foi bolsa, das minhas, que eu já nem lembrava mais a última vez que tinha usado. Obviamente que antes de sair, deixei a frase clássica: "Qualquer coisa, me liga".

O laboratório não deve ficar nem a 3 km de casa, então fui à pé e ainda peguei um atalho. Atalho nessa cidade significa o caminho mais íngreme, eventualmente com degraus pelo meio. Sem carrinho e sem 10 kg a mais, óbvio que eu daria conta das escadas de boa. Óbvio eu dei conta dos 30 primeiros degraus e o resto foi rezando e sentindo a asma voltar. Depois da pagação de promessa, ainda tinha o raio de uma rua inclinada. Quando eu não aguentava mais, parei, abri a bolsa e fingi checar o celular enquanto recuperava o fôlego ou vocês acham que eu ia me entregar assim pros outros transeuntes?

Cheguei, entreguei as requisições. "A senhora já tem ficha aqui?" "Tenho sim", mas o que passou pela minha cabeça foi "Tenho sim. Foi aqui que fiz o meu beta HCG! Sabe que minha filha tem agora 9 meses????". Lá a mulher me chama pra coletar o sangue. "Senhora Romana Vieira". Primeira etapa concluída. A médica pediu também um papanicolau. Mais espera. Senta uma senhora do meu lado, pego no celular pra ver as horas. Aparece a foto da Malu na proteção de tela e a mulher parece interessada. "É minha filha. Tem 9 meses e saíram-lhe 5 dentes agora, sabia?". Não, não falei nada. Guardei o celular e já fui chamada de novo. "Exame de rotina?" "Sim" "Fica pronto daqui a 15 dias" "Ok, tudo bem" " Tem filhos?" "Simmmmmmmmmmmmmmmm" "Parto normal?" "Simmmmm". Dessa vez, eu não pensei em falar sobre os dentes. Só fiquei matutando que era a primeira vez que me perguntavam se eu tinha filhos. Nunca tinha sido necessário porque, né, ando sempre com a minha bolotinha a tiracolo.

Voltei pra casa de novo pelo atalho. Na descida, todo santo ajuda. Malu sequer soube que eu saí por motivo de: dormindo estava, dormindo ficou. Saldo: nenhuma ligação, nenhum acidente, nenhuma vez foto mostrada a estranhos, nenhuma palavra sobre os cinco dentes.

Para a próxima saída sozinha, estou pensando em, sei lá, ir ao mercado e demorar 1 hora inteira. O que vocês acham?

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Badernação alimentar: primeira temporada

Aí que, né, reuni coragem hoje para falar sobre esse assunto. Hoje = quase 3 meses depois do início dessa jornada cheia de labuta, lágrimas e melecação pela casa.

Eu já nem lembro se antes do início da introdução alimentar tinha aquela coisa chamada "esperança que a Malu seja boa de boca". Se calhar sim porque ela começou a olhar para a nossa comida com os olhinhos cheios de cobiça, começou a colocar sorrateiramente a mãozinha no nosso prato. Na minha cabecinha ingênua ecoavam gritos de "vai ser sucesso, Narunaaa! É TETRAAAA!". Estava eu muito confiante, tinha estudado, tinha consultado a médica, sabia das técnicas, sabia dos paranauês todos da IA, sabia das quantidades, sabia da fórmula ideal da papinha, sabia de tudo. Sabia de nada, inocenteeeeee! Sabia de nada porque menina Malu não se mostrou aberta a novas experiências. Mas vamos começar pelo começo para vocês entenderem e chorarem  comigo.

Uma semana antes da Malu completar 6 meses, comecei a apresentar os novos apetrechos: prato, colher, copo de treinamento e cadeirão. Só de boinha mesmo pra ela brincar e ir se familiarizando (pffffff...cada ideia que passa pela nossa cabeça, viu?). Daí que ela achou aquilo tudo muito colorido e feliz, fiquei empolgada, ordenhei um bocado de leite, coloquei no copo e tentei dar. QUI-LA-RO que ela não aceitou. Ok, don't panic. Foi só um teste e ela não precisa de aceitar o leite fora da embalagem tradicional pra já. Sigamos. Era um domingo chuvoso, tinha essa bebê roliça seus 6 meses e um dia, decidi que era chegado o momento. "José, pega ali uma banana!". Lá veio José com a banana. Dei um pedaço na mão dela e o resto amassei. Pedaço na mão: carinha de nojo. Parte amassada: carinha de nojo ao cubo e desconfiança master com a colher. Rimos, achamos uma graaaaaaaaaça! "Aaaaaaai que tem tanta piada essa carinha de nojo dela". Coitados...mal sabiam...MAL SABIAM...

Então, foram passando os dias e meu plano era o seguinte: como já tinha começado com a banana, daria por 3 manhãs para ver reações, aceitação e tal. A médica tinha me orientado a começar pela papa salgada, mas como eu sou transgressora e meu âmago brasileira achou que ela saborearia muito melhor a fruta, tasquei a banana. Depois passei à pera, mais 3 dias de teste. Malu nem aí pra banana, nem aí pra pera. Passei ao raio da papa salgada, talvez ela aceitasse melhor. O plano alimentar da médica começava com uma base feita de cenoura, batata e abóbora que deveria ser dada durante 5 dias e só então alterada (leia-se adicionar mais algum ingrediente). E lá foi mamãe to-da confiante fazer a papa. Mesmo sabendo que o melhor é amassar com o garfo só, cozinhei os vegetais e passei pelo mixer. "Talvez ela aceite melhor assim, né? hehehehe". Porém não. Vocês não calculam o nojo desse bebê com comida molengatriturada. Deixei ela pegar, colocar a mão e ela passou em todas as partes do corpo, menos na boca. Nessa altura, desenvolveu o seu "gemido de desagrado".  Sempre que não curte a consistência das coisas, ela começa a gemer e joga o que estiver segurando no chão. É ela com o gemido e eu com a minha falta de paciência gritando e tocando tambor na cabeça. Ainda segui mais 3 dias com essa papa amalucada. Um dia, chutei o balde, decidi fazer do meu jeito e apertei o reset. Ia começar de novo, beeeeeem devagar, dando uma coisa de cada vez e só depois misturando. Ok. Cardápio de hoje: batata cozida só com o tal fio de azeite por cima. Amassei com o garfo e coloquei na mesinha do cadeirão. Qual não foi a minha surpresa quando Malu enfiou a mão na comida e levou à BOCA. À BOCA, MINHA GENTE! Não foi ao cabelo, não foi à roupa! O coração encheu de orgulho. "Eu sabia! Era isso mesmo! Tinha que fazer do meu jeito! Mãe sempre sabe das coisas". HAN RAN.

Vou resumir a coisa toda para vocês não me abandonarem. Seguimos razoavelmente bem até os 7 meses e meio, se não me engano. Passei a oferecer as frutas aos pedaços, esquema BLW (Baby Led Weaning, você oferece a fruta/vegetal inteiro ao bebê, ele pega com a mãozinha dele e decide quanto quer comer), e continuei a lutinha com a papa salgada. Como ela foi aceitando gradualmente, já tínhamos a rotina pequeno almoço (mama) - lanche da manhã (fruta) - almoço (papa salgada) - lanche da tarde (fruta) - jantar (papa salgada) - ceia (mama). Lembrando que a mama continuou (continua) em livre demanda, coloquei no ~~menu~~ só a título de orientação. Tudo muito bom, tudo muito bem. Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas, vieram os dentes. Maaaaaaaaaaaaaaaaaaas, veio a crise dos 8 meses. E desandou tudo, desandou bonito. Eu dava pera, era pera jogada no chão. Dava maçã, era maça jogada no chão. Papinha de grão de bico, cenoura e sei lá mais o quê, chooooooro, dramaaaa. Só banana. Menina Malu só queria banana. Dá-lhe banana! Banana pra lá e pra cá, o que aconteceu? Dá-lhe prisão de ventre! Pela primeira vez, ficou um dia sem fazer cocô. Um dia inteiro. Eu já relembrando a minha vida dramática, de quem sofreu LITROZ com ressecamento. "ô minha filha, tanta malemolência para você herdar da sua mãe, e você herda logo a prisão de ventre???". Mas até que nem precisei recorrer aos métodos de tortura medievais. Fiz massagem e rezei um rosário  e ela fez, mas overdose de banana, nunca mais. Vieram os dentes, os dois de baixo de uma vez. A gengiva superior inchada, gritando, irritação master, tapa na cara da mãe, oceanos de baba pela casa, mas nada de saírem mais. Dias depois, pipoca um terceiro ao lado dos inferiores. Depois que esse benditinho saiu, ela foi sossegando. Status atual: depois de muito chorume no Facebook, no telefone e no ouvido de todo mundo, ela voltou a aceitar as refeições, num ritmo muito menos voraz que muitos bebês, mas olha, a vida já foi pior.

Faço piadinha e não sei o quê, mas foi e continua sendo um bocado desgastante, confesso. O fato de eu colocar energia no preparo da papinha e ela desprezá-la totalmente me deixava completamente frustrada. Criava expectativas e caía tudo por terra. Tive dias de desânimo total, vontade nenhuma de fazer comida pra ela, cheia de negativismo na cabeça. Chorei achando que era minha culpa, pedinchei ajuda no oráculo (mães do Facebook), achei que ela ia ficar subnutrida, que não ia receber os nutrientes todos e ia adoecer e não sei que mais. Drama nessa cabeça. Não que agora eu esteja suuuuper ok e tranquila. Ainda tenho meus dias de culpabilização total, medo de estar fazer tudo errado, todas aquelas tretas. Essa introdução alimentar está sendo um belo quebra-cabeças e não dá pra cantar vitória porque todo dia é um dia. Sei que aprendi algumas coisas, dei n cabeçadas na parede e tenho mudado hábitos positivamente. Na gravidez, jaquei muito, mas era também mais cuidadosa com a alimentação. Nos últimos meses, a ogrice de lactante falou mais alto e tenho abusado. Com a Malu comendo frutas, acabo por comer com ela e isso tem sido um ganho. Ponto pra gente!

E qual a lição deste post, amiguinhos? Não há lição, simplesmente. A introdução alimentar é uma fase muito particular e existem inúmeras formas de começar e continuar. Cada bebê é de um jeito, aceita de um jeito. Eu mesma tenho que repetir esse mantra sempre que a Malu derrama a comida feita com tanto carinho. Você, mãe que está na mesma situação que eu, dá cá um abraço! Um dia eles comem, dizem. Só acho que deviam vender paciência na feira também, just in case, quê que cês acham? Era bem bom praquelas horas em que eles se afundam na cadeira e não abrem a boca nem pra Jesus.

Então assim, pra fechar (que já falei mais que homem da cobra, como diz minha avó), vou deixar não dicas, mas situações dessa nossa lamuriosa introdução alimentar que podem ajudar alguém aí. 

- O cadeirão da Malu é uma herança da prima dela. Não nos preocupamos em comprar. Ok. Lindo. Economia pura. Acontece que o bonito é em tecido e a cobertura não sai pra ser lavada. Só dá pra limpar com um paninho molhado ou esponja e não fica legal não. Vai ser substituído em breve por um mais prático, todo de plástico porque nem adianta ficar neurótica. Rola sujeira mesmo, pedaço de comida mesmo, cuspida mesmo. O negócio é facilidade para limpar depois.

- É visível aos olhos de todos que Malu nunca teve problema de peso. Antes o contrário, iniciou a introdução alimentar acima do peso médio para a idade, porém saudável, uma vez que era apenas amamentada. Mas o fator peso extra, faz-nos ter um cuidado a mais com o que lhe dar para comer. Não damos farinhas, massas, bolachas, a comida não tem sal e não entra nada industrializado no cardápio. Só frutas, legumes, grãos e frango, pra já.

- Babador sempre de plástico, peloamordedeus, porque eu sou o desastre da lavagem de roupa. Obrigada. De nada.

- Quando ofereço os alimentos em BLW, dou sempre num tamanho maior que a mão dela. Fica melhor para segurar.

- Tento me organizar pra dar a comida quando ela está bem disposta e sem sono (nem sempre funciona)

- Sempre que introduzo uma coisa nova, repito por 3 dias seguidos. Medinho de alergia alimentar. Também não misturo duas coisas novas de uma vez só na papa.

- Não costumo insistir muito se ela estiver naquele estado de choro inconsolável. A meu ver, associa a comida à hora da tortura.

- Mesmo quando ela só aceitava a banana, continuei oferecendo as refeições normalmente para não quebrar a rotina (e cortava o meu coração vê-la estragar comida, sério)

- P-A-C-I-Ê-N-C-I-A. Aos quilos, de verdade.



De resto, minhas santas. É dar tempo ao tempo e comemorar cada colheradinha.
Vocês sabem que esse é um post terapêutico e de autoconsolo, né?
Volto logo com assuntos menos sofridos.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

(A minha) Maternidade real em fotos

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas realmente...
Realmente não consigo me organizar pra terminar os cinco posts que tenho a meio, minha gente!
Vocês me perdoam? Vocês continuam comigo?
Daí que já que eu não consigo escrever, decidi fazer algo tchiferentchy para comemorar o Dia das Mães. Aqui em Portugal, foi no último domingo, o brasileiro está por vir e tem meu aniversário no meio disso tudo. Sábado estou aí completando 1/4 de século. Mas tá, sejamos objetivos. Dias atrás, uma colega de mestrado me mandou o seguinte link. Uma fotógrafa, mãe de 2, decidiu registrar cruamente seus dias com os filhos. As fotos, pra quem passa por isso todo santo dia, soam muito familiares. Ele me mostrou isso num dia particularmente difícil. A casa estava um caos, a Malu andava muito chateada com os dentes (Simmmmmm! Nasceram! 2 ao mesmo tempo e os dois centrais de cima estão quase saindo também...socorro!), eu estava impaciente, querendo chorar a cada 5 minutos, sentindo o peso do mundo nas costas e, no meio disso tudo, pensei em tirar umas fotos da nossa situação para lembrar no futuro. Abri o Facebook e tinha lá a inbox com o link. 
Então, aproveitei a ideia e decidi "imitar" a mulher ao meu modo. Ninguém é mais original nesse mundo mesmo. Passei uns dias com a câmera a tiracolo fotografando algumas etapas do nosso dia a dia. Aviso que vou imitar sem quaisquer pretensões que não mostrar como eu me viro diariamente sozinha com Malu a um oceano de distância da parentada toda, como somos absolutamente reais, bagunçadas, mas até felizes apesar da desordem. Não sou fotógrafa, a câmera é super básica e meus conhecimentos parcos acerca de luz, planos, composição. Foram enquadramentos afetivo-intuitivos, se vocês me permitem o neologismo. Como entitulei a sessão de "maternidade real", não usei efeitos, não corrigi e nem cortei as fotos. Em algumas, usei o efeito olho de peixe da própria câmera porque quem disse que não há um toque surrealista na realidade?
Feliz Dia das Mães reais a vocês!




















segunda-feira, 28 de abril de 2014

Profissão: mãe

Esses dias eu fui perguntada se estava trabalhando e senti uma puta vergonha de dizer que não. Quase corei, respondi gaguejando. Fiquei remoendo aquilo, era como caminhar com alguma coisa presa dentro do sapato: pequena demais para conseguirmos remover, mas suficientemente incômoda para continuar caminhando. Agora já fazem quase dois anos que não trabalho. Vim fazer o mestrado, depois veio a Malu e vocês sabem o resto. Mas espera aí, como não trabalho? COMO NÃO TRABALHO? Como raio eu respondo que não trabalho? Vá lá, vamos recomeçar. Agora já fazem quase dois anos que estou fora do mercado de trabalho. Fazem quase dois anos que não saio de casa, pego metrô lotado, fico o dia fora comendo mal e recebendo trocados no fim do mês. Aí sim. Fazem quase 2 anos que não sei o que é isso.

Minha mãe vivia dizendo: estou morta! Cansada! E eu nunca entendia. "Mas cansada de quê, minha gente?". Hoje eu tenho que pedir perdão a ela publicamente por ter questionado/duvidado tantas vezes. Ela trabalhava fora e dentro de casa. Chamam de jornada dupla. Eu chamo de múltiplas jornadas, infinitas. Há quase 8 meses estou cansada, alguns dias mais, outros menos. Mas cansada, fisica e mentalmente. São muitas horas extras, turnos trocados e exaustão. Exaustão. Criar alguém é sim um trabalho. Um trabalho fora de esquemas patronais, sem carteira assinada. Talvez trabalho e não emprego, para deixar tudo nos seus devidos termos. 

Maternidade e maternagem vêm ambas ensinando-me uma data de coisas, isso não é novidade. Muitas são óbvias, outras nem tanto. Aprendi que os julgamentos (os dos outros e os nossos próprios) são os maiores inimigos. Já julguei muita gente, muitas mães. Já apontei o dedo, já falei "se fosse comigo não era assim". Mas nada como um dia atrás do outro, nada como vestir a carapuça. Se fosse comigo era do mesmo jeito, se não pior. Talvez a minha vergonha em dizer que "não trabalho" seja fruto do julgamento que faça de mim mesma. Vergonha de dizer que "abandonei a minha brilhante carreira de jornalista" para estudar receitas de papinhas ou ficar aflita esperando um dente nascer. Vergonha de assumir a minha escolha. Vergonha de ser diminuída por fazê-la. Quando eu engravidei, muitos disseram que foi uma pena ter acontecido isso a alguém tão inteligente. Fiquei incomodada, mas não escondi a barriga de ninguém. Não sou vítima da maternidade. Escolhi, apesar da vergonha que me fazem sentir às vezes por tê-lo feito. Escolhi. Uma sorte que outras não têm.

Aprendi ainda que essa ideia divinal de ser mãe é uma treta. Ser mãe é ser bem humana. Há dias em que queremos poetizar, colocar tudo em verso e rimas ricas, mas mãe é muito gente. Passei a ter uma certa aversão àquela imagem sacralizada da maternidade, aquele ar quase etéreo, aquela coisa idílica. Foda-se essa história toda. Mãe come, mãe gosta de sexo, mãe xinga, mãe tem vontade de partir uma louça pra libertar a tensão, mãe cede, mãe não é obrigada. Ser mãe é ser muito real, muito de carneossoelágrimas. Ser mãe é se sentir muito sozinha às vezes, apesar do Zeca Baleiro dizer que "mesmo o mais sozinho nunca fica só".

Isso tudo para dizer que sim, eu trabalho. E talvez precise dizer isso mais a mim mesma do que a vocês. Talvez precise me lembrar que o fato de ser mãe não fez desvanecer o meu bacharelado, os estágios, os contracheques recebidos, as matérias suadas. Talvez precise me lembrar que não abandonei nada, que não há uma coisa em detrimento da outra. Talvez precise me lembrar de responder que sim, eu trabalho, apesar de não ter emprego.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Pera, uva, post salada mista

Daí que sumi e volto quase um mês depois com a cara limpa como se nada tivesse acontecido, né, minha gente? Perdoem, mas agora tem andado um bocadinho mais complicado me organizar com o tempo e sentar a bunda na cadeira para escrever (ou digitar de pé mesmo, como está acontecendo neste justo momento). Então, vou tentar fazer aqui um apanhado do que se tem passado por cá e ficamos com os ponteiros acertados (ou quase isso), ok?

- Vocês devem estar se perguntando: por que tão complicado se organizar se já havia bebê antes, Naruna? Havia, havia bebê sim. Mas um bebê tranquilo, de boa, que ficava entretido com o seu mordedor de chaves enquanto eu lavava a louça ou escrevia. Agora...agora, minha gente, Malu tá com a macaca. Primeiro que ela senta e só quer viver sentada, mas de vez em quando tomba, então tenho que ficar de olho para ela não andar aí se machucando. Já deu duas cabeçadas, tadinha, e foi aquele chororô. Segundo, ela está entrando na fase da ansiedade de separação. O que diabos é isso? Basicamente, dos 6 aos 15 meses, os bebês entendem que eles e as mães são pessoas diferentes e acham que quando ela se afasta é porque vai embora, mesmo que o se afastar seja só ir até a cozinha. Muitas vezes, estou aqui tentando agilizar alguma coisa, deixo-a no seu sofá-cama-parque-multiuso com os brinquedos e ela já grita logo. Grita bonito. Terceiro que ela quer atenção mesmo, companhia. Se eu sento do lado com o computador no colo, fica revoltadíssima. Olha pra mim com uma cara de desapontamento e ficar "GRWARRR BABABABA" como quem diz "Mãe, deixa essa coisa! Brinca comigo!". Fazer o que, né? Aposento o pc e fico inventando brincadeira atrás de brincadeira porque cada uma só a consegue entreter por uns poucos minutos. Resumo da ópera: Malu tem demandado muito a nossa atenção e reclama se não a tem. Justíssimo.

- Malu foi a um parquinho pela primeira vez e esteve mais interessada em colocar a boca em todas as coisas. Fase oral maravilhosa!

- Vou desistir de falar sobre o sono, o que que vocês acham? Desisto. Desisto mesmo. Um dia ela vai dormir bem, tenho fé. Pra já, tá bem instável, há dias que dorme razoavelmente, há outros em que acorda aos berros (mais um sinal da ansiedade de separação) e mais outros que rola pra lá e pra cá, acorda na cama dela, de barriga para baixo e chora porque não consegue voltar à posição anterior. HAHAHAHA Sonecas diurnas: um caos. Protesta muito pra dormir e, quando dorme, dura uns 20 minutos. Aí vocês imaginam, quando eu finalmente consigo que ela durma, a Meg late/passa um motoqueiro a 300km/h na rua/a vizinha ,que não sabe o que sutileza é e mora no terceiro andar, grita pela nora que mora no primeiro. A vontade de sair correndo nessa hora grita mais que a vizinha.

- Habilidades motoras da Malu se resumem a: parece uma cobrinha que rasteja apenas em círculos. Só sai do lugar girando de 180º a 360º. Gira e fica um tempão lá olhando para coisas que ela ainda não consegue alcançar. 

- Brinquedos são uma bela forma de gastar dinheiro e só, na maior parte do tempo. Ela tem alguns vários, brinca, é capaz de ficar entretida, mas prefere infinitamente as etiquetas (ainda as etiquetas!). Para além disso, caixas de papel, saco de plástico, pacote de biscoito, embalagem de barra de cereal, colher, controle remoto, tudo é mais interessante do que o tecladinho maravilhoso com as notas musicais. Como eu sou menas, deixo de bom grado ela brincar com utensílios de cozinha e embalagens. Deixo, até vir o José a reclamar: "Olha lá que ela engole isso blá blá blá" "Não engole nada que eu to de olho. Tá pensando que eu sou doida?" "Tou". Respeito pela mãe: zero elevado ao cubo.

- Brincadeira favorita: encher a mãozinha de baba/comida e ficar abrindo e fechando para ouvir o som que faz. É impressionante a capacidade que ela tem de ficar longos minutos nesse divertimento. Acho tão engraçado que tenho vontade de fazer também.

- Gosta muito de água. Tipo muito. Tipo ama. Vê o copo e já começa a sacudir os braços que nem uma doidinha. Um dia, inclusive, peguei o copo e tive a impressão de ouvir ela dizer "aba", mas nunca mais repetiu. Acho que foi loucura da minha cabeça mesmo.

- O José fala "Pipinha" e ela acha graça sempre. Sempre. PIPINHA. Pipinha, minha gente! Sei lá de onde eles tiraram essa brincadeira interna...

- Com o bom tempo de primavera, estamos começando a aposentar casacos, macacões de fleece, pijamas quentes...sejam benvindas, manguinhas curtas! Vamos colocar os bracinhos gordos da Malu de fora!

- Introdução alimentar: Ai, a introdução alimentar. Tenho um post a meio sobre isso, mas faltou coragem para terminar. Só vos digo uma coisa: SAGA. Tem uma galera no meu Facebook que já fica só esperando a postagem diária sobre o assunto para se divertir. Juro que não sou neurótica para que ela coma desesperadamente, bata um pratão, até porque mama super bem e o leite continua a ser o principal alimento até um ano, mas meu esforço e preocupação é para que eu siga um bom rumo e não faça das refeições uma hora de tortura. Estamos nessa há quase 1 mês e meio e lentamente progredimos todos os dias. A grande questão não é que ela recuse as coisas, é que, como teve durante 6 meses apenas o reflexo de sucção, enche a boca de comida e não sabe que aquilo é para ser engolido. Resultado: cospe tudo fora. Acredito verdadeiramente que ela tem que se divertir com os alimentos, lambrecar tudo, passar no cabelo, na cara e, obviamente, Malu corrobora a minha teoria porque faz isso todo santo dia. É uma fofura, a Meg então, está amando os novos sabores que tem encontrado pelo chão, já fica a postos quando nos ver preparando tudo. Agora minha confissão: ela acaba de comer e me dá uma preguiça só de olhar a bagaceira, ter que limpar bebê, chão, cadeirão, etc. Apesar da preguiça e dela ir comendo poucas colheradas, repito o processo todo santo dia mais ou menos na mesma hora pra ir criando o hábito mesmo. Hoje ela comeu uma banana quase toda! Ficou uma colheradinha só <3 Detalho a saga toda num post só, prometo.



- Falando em Meg...as duas estão criando uma relação que é uma coisa muito gostosa de ver. Malu  já sabe que a Meg é a Meg, ou seja, liga o nome ao bicho. Acorda procurando, dá bom dia do jeito dela, abre a boca pra Meg lamber (escatologia define nossas vidas ultimamente <3), puxa orelha, pelo, rabo, pata, grita com ela. A cadela retribui o "carinho" e deixa ela fazer o que quer, ainda senta no colo. Ás vezes, eu e José ficamos só olhando e rindo a brincadeira delas duas. Alguém tinha que vir e nos colocar um babador nessas horas. 




- A mistura baba que não acaba nunca, restos de comida e cocôs estranhos taí pra me mostrar que eu sou um fracasso na lavagem de roupa. Mas um fracasso bonito. Não interessa que lavar roupa na máquina seja só colocar lá dentro, ligar e pronto. Eu sempre erro o modo de lavagem. SEMPRE. Resultado: Malu ganhou toda uma geração de roupas manchadas, desbotadas ou se desfazendo. Alguém me ajuda, gente? Como que lava isso?

- Malu aquática: e lá se foi o primeiro mês na natação! Nunca vim detalhar aqui a coisa toda, né? Mas pronto. Nós decidimos colocá-la não com a intenção real de que ela aprenda a nadar desde cedo, seja atleta, tenha atividades extras e isso tudo. Nossa principal preocupação foi por saúde mesmo. Vocês lembram, muito novinha ela teve uma bronquiolite, que, segundo a médica, é perfeitamente normal e tal. mas eu fui uma pessoa muito cheia de problemas respiratórios, asmática, pneumática, sei lá o que mais, e o José também sofreu muito com coisas parecidas. Lógico que pela genética, ela tem uma tendência clara a seguir pelo mesmo caminho. A natação é ótima para ampliar o repertório respiratório e o nosso intuito é mais preventivo que qualquer outra coisa. Desde a primeira aula, a reação dela foi fantástica, nunca teve medo. Leva com água na cabeça, na cara, deita na caminha flutuante, faz tudo. O professor disse que talvez o fato dela tomar banho de chuveiro tenha ajudado na adaptação. No último sábado, ela aprendeu a bater as perninhas. <3 <3 <3



- Sling, amor verdadeiro, amor eterno: estamos aqui na maior lua de mel com o sling de argolas! Acho que é a melhor fase. Andei um tempo reclamando que ela não relaxava lá dentro por causa da posição e não se i que...balela, minha gente! Acho que eu não estava sabendo ajustar direito. Certo é que coloco-a aqui direitinha na posição de lado, em cima do osso da minha bacia, e simbora passear! Pense na maravilha! Olha pra tudo, interaje com o mundo e até dorme. Obviamente que passado 1 hora e tal, cansa, afinal são 10kg, mas tem sido uma delícia passear com ela assim agora que o tempo melhorou. Uma delícia também os olhares de espanto feat. curiosidade das pessoas. "É um bebé que ali vai? :o"

- E a mãe? Eu tô aqui, né, gente? Retomando as pesquisas para voltar ao mestrado em setembro, verdadeiramente decidida a mudar de tema, o que vai fazer os professores me amarem ad eternum. Ultimamente tenho tido mais períodos de "meudeus, quero sair correndo!". Tanto por causa dessa fase da Malu que demanda ainda mais apego, como por uma questão hormonal também. A maravilhosa red voltou e com ela uma TPM do cão, mas do cão mesmo. Aliás, esquisitíssima essa volta da menstruação depois do parto. Instabilidade define. Por isso, se eu ficar grávida de novo, não se espantem, tá?...BRINCADEIRA, GENTE! 

- E o blog? O BLOG FEZ UM ANO, MEU POVO! Dia 12 de abril de 2013, estávamos eu e mais duas amigas iniciando esse puxadinho aqui. As meninas seguiram com a vida e sobrei eu com as minhas histórias. Quando começamos, tinha eu 20 e tal semanas de gravidez, sabia de nada (inocente!) e vejam só onde estamos hoje. Quero dar um presente a vocês que nos acompanham aqui, mas ainda estou resolvendo e me organizando (daqui pro segundo aniversário da Malu, a gente resolve).


Então, e vocês? Contem-me coisas bonitas.

terça-feira, 25 de março de 2014

Para quê a pressa?

Se tem uma coisa que os bebês adoram fazer, mesmo sem a menor intenção, é nos ensinar que eles têm um tempo próprio e muito particular: o tempo deles. O tempo de crescer dentro da barriga, de nascer, de crescer fora da barriga. E dentro do universo tempo do bebê, cada bebê tem seu tempo, por isso, é inútil compará-los. 

Nós, humanos adultos impacientes que somos, adoramos, por nossa vez, fazer com que os bebês sigam o nosso tempo. E o nosso tempo é cheio de pressa. Bebê tem que nascer às 38 semanas, bebê tem que ganhar 1kg por mês, bebê tem que sorrir antes do primeiro mês, bebê tem que sentar aos 6 meses e comer todas as frutinhas antes de completar os 7, bebê tem que engatinhar aos 8, falar aos 9 e andar aos 11. Tem que fazer porque o médico disse, porque a vizinha falou que é assim, porque quero logo que ele seja independente e vá dormir no quarto sozinho, a noite toda. São estímulos demais, quereres demais e ansiedades demais projetadas em cima de alguém com poucos centímetros e tantos instintos. Teimamos em ir contra, teimamos em apressá-los e depois o que fica? Saudade. Um lamento eterno porque passou rápido demais, porque o bebê cresceu e não quer mais andar ao colo.

A Malu demorou até as 28 semanas de gestação para nos dizer que ela era ela. Nasceu quando quis, às 39 semanas e 2 dias. Nunca mamou de 3 em 3 horas. Agora, quase aos 7, é que fica mais tempo sentada sem apoio. Agora, quase aos 7, é que ela gargalha.

Não vou ser aqui hipócrita e dizer que fui sempre um Buda da compreensão. Muitas vezes eu quis que passasse logo. Quis que aquelas noites longas do primeiros mês fossem passado, quis que ela dormisse umas horinhas seguidas sem lembrar de mamar, que caminhasse pelos próprios pés sem precisar de colo, que me deixasse almoçar sossegada enquanto brinca com os brinquedinhos dela. Noite passada, inclusive, ela acordou chorando n vezes e eu pensei: Malu, quando isso vai acabar? Parei de escrever esse post incontáveis vezes para sentar ao lado enquanto ela brincava. Se eu me afastava, ela protestava. Até que dormiu segurando o meu colar. Quando, nos seus próximos anos de vida, ela vai fazer isso de novo? Quando ela vai caber assim no meu colo?

quarta-feira, 19 de março de 2014

Ao pai

19 de março de 2014.
Dia de São José.
Dia do Pai em Portugal.
O primeiro dia do Pai do pai da Malu.
O José.

Então hoje, deem-me licença, vou falar ao pai.

Naquela altura do enamoramento, creio que ainda na época online, peguei-me pensando: "O José daria um bom pai". Não disse a ninguém. Guardei a constatação. Não que eu estivesse já cogitando, não que fosse um plano para tão breve. Apenas pensei. Pensei porque não me lembro de conhecer alguém tão preocupado com o outro, tão atento se estamos bem, se precisamos de algo. E já agora não consigo mais definir porquê pensei. Apenas pensei. 

Muitas vezes nesse meio tempo, as coisas estiveram confusas. Quando isso acontece, tento sempre lembrar do que me disseste um dia: "Vou enrolar teu cabelo para tudo continuar  funcionando". Nem precisa, amor, nem precisa. Basta você chegar. Toda vez que te vejo caminhando em minha direção, sei que as coisas vão ficar bem.

Mas aí estou falando do José "amor". Entre o pensamento que guardei e o José pai, levou tempo. Levou o tempo da Malu. Levou o tempo de analisar o valor da taxa de beta HCG. Levou o tempo de ir a cada consulta do pré natal. Levou o tempo de ouvir um coração bater, um coração feito por nós os dois. O tempo de frequentar aulas de preparação para o parto. O tempo de pesquisar e aprender sobre o parto, pesquisar e aprender sobre como cuidar de um bebê. O tempo de escolher um nome, de preparar a casa, a vida. O tempo de segurar a minha mão durante as contrações, de fazer piada entre uma e outra. O tempo das noites em claro, de saber se é normal o recém nascido respirar assim. O tempo de aprender o nosso jeito, descobrir as nossas formas. Levou o tempo de ver o amor multiplicar, crescer e fazer rir. O tempo. Levou o tempo que o tempo tem e que terá.

Não há nada que eu queira te dizer hoje que também não queira dizer outros dias. A Malu está muito bem de pai. Tem um pai que não ajuda. Tem um pai que faz. Um pai que é pai, que tem papel de pai. Um pai que paterna e não apenas assiste a mãe maternar. Malu tem um pai. Malu tem O pai e eu tenho sorte de ter  vocês os dois.

Feliz todos os dias de pai, neguinho

segunda-feira, 10 de março de 2014

Quando sai o sol

Eis que tem feito dias bonitos por cá. Mas assim bonitos mesmo de doer o coração e olhem que ainda vamos ali na beiradinha do inverno! Até o fim de semana do Carnaval estávamos sob o pior tempo ever: chuva ininterrupta, nevoeiro, granizo, frio, o mar todo maroto invadindo a marginal. Então, depois da quarta-feira de Cinzas, o sol saiu e temos vivido acima dos 20ºC. Amoramoramormuitoamor. Com uma temperatura dessa, a mãe (que andava há muito trancafiada em casa, contendando-se em ir à janela ver o movimento) pira. Já tinha prometido a mim mesma e a Malu: "Quando o tempo melhorar, vamos dar uma volta. Assim, as duas sozinhas. Caminhando e cantando e seguindo a canção". 

Daí que veio o sol. Ai que bom. Olha, fico até bem disposta. Vou dar um jeito nessa casa. Acabou o primeiro dia de sol, nada de Naruna e Malu saírem de casa. Como eu sou o tipo de pessoa que toma coragem na sexta, decidi: é hoje. Já disse aqui que tenho super o hábito de sair sozinha com a gordinha, mas vejam só, sair sozinha = levá-la ao médico de táxi e voltar pra casa. Sad life. Sair para um passeio despretensioso à pé significava também levar o carrinho monstro dela para um despretensioso passeio à pé. Sim, porque são 9,100kg, né, minha gente? Atualmente, só estamos com o sling de argolas. Calculem. Como ela já tá grandita e fica na posição de lado (aka escanchada. Alôu Piauí!), não consegue relaxar e dormir, aí já teríamos outro problema. Então, o melhor era levar o carrinho mesmo e pronto. Põe tudo na mochila, checa tudo que colocou na mochila, troca de roupa, leva casaco ou não?, "filha, meia não é pra comer", José no Facebook : "Cuidado com as escadas", bota bebê na cadeirinha, desencaixa cadeirinha do carrinho, desmonta carrinho, tchau Meg! Primeira etapa concluída com sucesso: estamos do lado de fora do apartamento. Só temos de descer 2 andares de escada e voilá: rua. 

Como boa mãe esperta, corajosa e das quebradas que sou, descia um lance de escadas com Malu na cadeirinha, corria, voltava e buscava o carrinho off-road-tração-nas-3-rodas. 15 minutos para descer, sei lá, 60 degraus. Beleza. Fase ultrapassada. Agora é tudo 5 estrelas. Remonta carrinho. Encaixa cadeirinha. Coloca protetor de sol. E vamos ao passeio primaveriiiiiiil, Maluzinha! ...CATAPLOFT...Caímos. Caímos as duas na descida dos dois degraus que separam o hall do prédio da rua. DOIS DEGRAUS DEPOIS DE DESCER SESSENTA E SOBREVIVER. Imaginem a cena: a cadeirinha quase desencaixou, ficou meio torta, vi Malu de bunda pro ar, porém seguríssima pelo cinto. Não sabia se segurava a cadeira, se falava com ela, se tentava me recompor, se segurava o resto do carrinho. Felizmente um casal que estava ao lado da porta (se pegando), veio nos ajudar. Mais felizmente ainda, Malu não sofreu um arranhão, só viu o mundo ficar ligeiramente de cabeça para baixo e ficou com os olhos arregaladíssimos, mas não chorou nem nada. A única coisa ferida foi meu orgulho mesmo. Pensei em subir pro apartamento imediatamente e ficar em posição fetal remoendo a minha burrice de não deixar pra montar o carrinho quando não houvessem mais degraus a descer. Agradeci ao casal num fio de voz, morta de vergonha, me sentindo a mais menas das menas. "Tá bem, filha? Foi só um susto tá? Mamãe tá aqui". Acho que estava consolando mais a mim mesma do que a ela, que olhava pra rua muito satisfeita. 

Eu podia ter voltado pra casa. Podia. Mas nããããão, eu continuei. Catei os cacos da minha vergonha do chão e fui embora. Não sei porque liguei pro José e contei do incidente. Já sabem o que ele disse, né? "Eu falei pra ter cuidado nas escadas mimimi" "Foi só um susto. Tchau. Estamos ocupadas sendo lindas sob esse sol maravilhoso da Euró-pah".

E fomos nós conversando e sacolejando pelas ruelas da Baixa do Porto enquanto eu pensava aonde ir. Já falei pra vocês que sou taurina. Já falei que preciso de segurança. Segurança nesse caso quer dizer um lugar para trocar fralda porque aprendi a duras penas que Malu não aceita ser trocada em qualquer tampa de privada. Então resolvi eleger como porto seguro o shopping ~~das proximidades~~ que eu já sabia ter um fraldário de jeito. Teria que ir lá mesmo comprar os nossos maiôs para a aula de natação da Malu (Siiiiimmmmmmmmmmm! A moçoila da água veio, para a água voltará. Próximo post vai ser sobre isso).

Passeio vai, passeio vem. Eu besta sem saber se botava manta, se tirava manta. As pessoas passando e falando "ai que coisa mais gordinha". Malu no seu babababa infinito. Aquele clima de primavera no ar. Tudo muito bom, tudo muito bem. E então ela dormiu, melhor ainda. Daí começaram a me parar para: pedir ajuda para instituições, pedir esmola, pedir informação porque empurrar carrinho de bebê = ter um coração mole.

Opa, Malu acordou. Reclamou. Hora de mamar e trocar a fralda. "Ai que eu sou espertíssima. Só pegar aqui um elevadorzinho e já está. Fraldinha trocada". Mas obviamente que como estava eu sozinha, a lei de Murphy resolveu providenciar aquele cocô explosivo que por muito pouco não escapou da fralda. Fichinha. Estamos acostumadas com estes (em casa). Bebê no colo para evitar "esparramamentos", tento desenrolar  e destacar um bocado de papel protetor com uma mão. Saiu todo amarrotado, parecendo que foi rasgado, mas dava pro gasto. Deita Malu no trocador, separa a fralda, os lenços. "FILHA, QUE QUE É ISSO NA TUA BOCA?". Tava se lambuzando com o pedaço mal destacado do papel protetor. Sem pânico.  Ela não engoliu nada. Fim da estadia no trocador. Compramos os maiôs. O sol já começava a ir embora e era melhor voltar pra casa. 

Volta tranquilíssima. Eu já pensando que essa saída podia render um post..."Espera...como eu saio daqui?". Metade do centro do Porto está sempre em obras e eu, sabe-se lá como, me enfiei com carrinho e tudo em um cercado sem saída onde só haviam máquinas trabalhando. Imaginem. Reflitam a cena. Os trabalhadores com aquela cara de Q, as pessoas que passavam se questionando "mas pra onde aquela louca vai?". Só me dei conta mesmo que não tinha saída quando rodei, rodei com esse carrinho e nada de ver um buraquinho aberto. 180º depois, achei por onde retomar meu rumo. A cara queimando de vergonha de novo. E a Malu "babababababababa".

Celular toca e é o José. "Tudo bem por aí?" "Tudo óóóóóótimo. Estamos passeadíssimas e voltando para casa".

Chego na rua do prédio e os vizinhos começam a me acompanhar com o olhar, certamente esperando uma desgraça. Mas eu vim, resplandecente e esplendorosa empurrando o carrinho. Estacionei-o na porta, tirei a cadeirinha, desmontei o carrinho e transportei tudo sem afobação, uma coisa de cada vez. Lindíssima, com meu look Zara, fechei a porta e deixei os fofoqueiros apenas de queixo caído. Porta fechada. Chutei o carrinho pra um canto, subi com a Malu na cadeirinha e mandei mensagem pro José: "Quando chegar, sobe com o carrinho. Ficou escondido embaixo da escada".

Lição de hoje: Yes, I can. Mas não sou nem obrigada.


quinta-feira, 6 de março de 2014

6 meses de filha da mãe, 6 meses de mãe da filha

AHA UHU
Todo mundo pode vir comer o nosso bolo porque estamos de parabéns! Mãe, pai, filha e Meg. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos nessa primeira etapa de muitas.

Eu estaria mentindo se dissesse que você foi planejada. Não foi. Não foi porque eu e José somos bem ruins de planejamento. Capengas mesmo. Mas também estaria mentindo se dissesse que a gravidez foi uma surpresa. Não foi. A verdade é que ela foi sempre desejada. A verdade, filha, é que você é toda feita de amor. Da sua unha esquisita do dedão do pé até a sua mecha de cabelo branco do topo da cabeça. Tudo envolvendo você sempre envolveu também amor. Amor e números engraçados.

Foi assim que sua história começou, filha
No dia 11 do 11 de 2011, estava eu em cólicas no terminal 2 do aeroporto do Galeão, agarrada a uma garrafa de água e mirando impacientemente a porta do desembarque. Seu pai foi o último a sair de lá com aquela camisa do Rocky que hoje nem existe mais. Depois de 9 meses de relacionamento online, era a primeira vez que nos abraçávamos (e beijávamos). 15 dias depois, ele voltaria para o lado do oceano de onde tinha embarcado. Não sei quando o amor nasceu aí nesse meio, mas a data da saudade foi 26 de novembro de 2011. Chorei, choramos. Quase um ano depois, eu que atravessei o mar todo. E vim. Vim para o mestrado. Vim para o amor. O resto você já sabe. 

O que você talvez não saiba é que sua mãe precisa de estar permanentemente apaixonada para funcionar. Foi sempre assim. Só estudei o que amei, só trabalhei onde amei, só carrego comigo quem eu amo. Eu me apaixonei por estar grávida e acho que por isso as coisas correram tão bem. Entreguei-me àquilo tudo, entreguei-me às transformações do corpo. Estudei exaustivamente o que acontecia e estava prestes a acontecer. Não foi difícil.

E então, você nasceu. Há 6 meses e uns dias, você nasceu. E foi um tal de me apaixonar pela maternagem. Até então, eu amava a ideia de ser mãe. Dia 31 de agosto de 2013 tive de por o plano em prática. Transformar todas aquelas leituras em ações, buscar minhas próprias saídas e lembrar um bocado do que a minha mãe (sua vó) dizia. Não tem sido fácil, filha. Entre as palavras escritas por outros e o nosso dia-a-dia existe um desfiladeiro enorme. Existem o nossos valores humanos, existem obstáculos, existem as nossas capacidades. Com você nos meus braços, 24h/dia, 7 dias por semana, aprendi que a maternagem ideal é aquela que aprendemos a construir na prática. Há sempre o nosso jeito. E o nosso jeito, aprenda isso logo, é o melhor para nós. Não significa que será o melhor para os outros porque as pessoas são diferentes. Isso se chama compreensão e foi você que me ensinou da forma mais genuína e indubitável possível.

Quando eu saí de baixo da asa da sua avó, aos quase 22 anos, cresci um bocado. Fui morar em outra cidade, com outras pessoas, pagando uma boa parte das contas e tendo que me virar para arranjar emprego onde ninguém sabia de quem eu era filha. Na altura, precisei disso para saber que era capaz. Ser sua mãe me fez mulher, enfim. Muito mulher. Não que eu ache que só é mulher quem se torna mãe. Mais uma vez, estamos falando da nossa experiência. 

Nesses 6 meses, vi minha paciência crescer a níveis astronômicos. Vi o meu senso de responsabilidade triplicar. Vi que eu posso. Sim, eu posso. Eu posso amar ainda mais porque é isso que acontece todos os dias quando você acorda: o meu amor só cresce.

Como boa taurina com ascendência em Touro, eu gosto de ter controle sobre as coisas, de estar segura, de saber o que vai acontecer. Tanto que tenho a mania intragável de ler a última página dos livros antes da primeira. Maternar é um pouco sobre perder o controle. E eu tenho perdido feio, Maluzinha. Tenho que seguir com os capítulos por vez porque simplesmente ainda não há última página. Quem foi que disse mesmo aquilo de "o caminho se faz caminhando"?

6 meses é só o começo e já caminhamos um bocado. 


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Aleatórias de mãe e filha

Juro jurandinho da silva que eu tentei ser coerente e coesa (como me ensinaram na faculdade de Jornalismo)  e escrever sobre um assunto só. Mas quem liga, né, gente? Vamo chutar o balde e falar sobre coisas, no plural mesmo.

- Um dia, Malu despertou e "CORDEI! CADÊ MUNDO QUE EU QUERO DESCOBRIR?". Ligaram o botão da curiosidade nessa pessoa e nada, absolutamente nada passa despercebido. Em tudo ela quer colocar a mão, a boca, quer saber de onde vem todos os sons. É uma verdadeira rede de arrasto. Se eu vou trocá-la, ela sai puxando logo o que tem por perto, seja o pacote de lenços, seja fralda suja, seja roupa. Em bom~~ purtuguês de Purtugal~~, cuscuvilheira. Em bom piauiês, malina. A poucos dias de começarmos com a introdução alimentar (senta e chora), ela deu pra abrir a boca sempre que nos vê comendo. Mas não é um abrir de boca discreto. É um abrir de boca feat. jogação de tronco para a frente que configura uma clara movimentação "dá cá isso que eu também quero". Se eu fosse muito otimista, era capaz de pensar "jesus cristinho, que coisa maravilhosa! essa criança vai comer lindamente!". Como eu sou muito realista, chamo isso de fogo de palha. Mais uma demonstração da sua curiosidade inabalável ou o simples fato de repetir o que nos vê fazendo. Seja uma coisa ou outra, eu e o José nos fartamos de rir. Desculpa, filha. A gente ri muito da sua cara. Mesmo.

- A gente pondera bem sobre quando e que tipo de brinquedo dar. Como vemos que ela já se interessa e aquilo passa a ter algum sentido, vamos fazendo um rodízio. E muito bem, ela brinca...com a etiqueta das coisas. Fui aqui lavar as louças, totalmente no modo doméstico operante, e deixei-a no carrinho com  um elefante colorido que ela tem. Ficou ali do meu lado, muito calada. E eu "olha, que maravilha...brincando", mas sem desviar o olhar da pia ainda. Continuou calada..."gente...afinal, os brinquedos começam a fazer sent...filha, isso é a etiqueta do bicho??".

- Se tem uma coisa que não me ofende minimamente é confundirem a Malu com um menino. Acho mesmo que as pessoas não têm qualquer obrigação de identificar à primeira (segunda, terceira...etc.), até porque visto-a sem esse propósito. Aliás, visto-a mesmo porque é o jeito. Tá frio e ainda não rola a operação Xingu. Quando ela tinha perto de um mês, fomos à consulta no Centro de Saúde e lá uma senhorinha olhou-a "Aah! Que riqueza! Tem mesmo carinha de menino!". Não me fez nem cócegas. Não achei aquilo ofensivo e foi então que me dei conta que essa confusão passava mesmo ao lado. Lembrei disso porque este fim de semana, no supermercado, um senhor confundiu-a com um rapaz e ficou visivelmente sem graça com isso. Pediu mil desculpas. Mal sabe ele que a minha cara de c* (desculpem, crianças) era pela pegação descontrolada na minha criança que dormia...

- Vocês já viram um bebê com cara de quem está te julgando? Essa é a Malu quando encontra pessoas que ela não conhece ou quando fazemos alguma coisa que ela não acha a menor graça. Porque vocês sabem, ser mãe e pai é se virar em palhaço também às vezes. Acontece que essa nossa cria aqui nem sempre vê piada por mais que nos esforcemos, mas não vê piada meeeeeesmo. Daí faz uma cara de "mas o que eles estão pensando da vida?".

- Ai, a maternidade e a arte de cuspir na testa...Eu, que já julguei tanto as pessoas que só postam fotos dos filhos, que jurei que nunca ia falar com o bebê que nem uma abestada...HAHAHAHAHAHAHA Preciso nem dizer, né? Nem dizer que meu Instagram tá atulhado de Malu, que meus status do Facebook são basicamente sobre Malu e que, antes de vir postar, estávamos numa conversa Abudigiguiguá Bibobutetedadá.
Resgatando a africanidade para tapar as entradas

- Minhas roupas começaram a cair. Só não mais que o meu cabelo...porque olhan...tenho aqui umas entradas maravilhosas. Estou me valendo da trucagem, resgatando a africanidade e sendo feliz, apesar de careca.

Eu tinha mais coisa pra relatar, mas vocês não imaginam o quanto eu emburreci, fiquei surda e meio desnorteada. Sério. Ando esquecendo de tudo e mais alguma coisa, mas esquecer de tirar foto da Malu e mandar pra listinha do Whatsapp, eu não esqueço.

Agora quero propor aqui uma coisa. Na verdade, pedir uma ajuda, uma sensibilização. O José está com um texto empacado há 3 meses. Dizendo ele que anda escrevendo sobre ~~dores e delícias~~ da paternagem. Há 3 meses, minha gente. Vamos fazer uma leve pressão para que ele libere essa obra prima pra gente? Peçam com carinho. Eu já tentei, já dei deadline, prazos, prometi que não quebrava mais nenhum copo...nada adiantou. Tentem vocês a ver se temos esse textinho lindo por aqui. Podem apelar. Ele está ouvindo. Garanto.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O salto da discórdia

Toda vez que eu faço um backup das últimas semanas, aquela música da Kátia começa a tocar como trilha sonora. Que Kátia? Sério, gente? Anos 80, paradas de sucesso? Não?  Ninguém? Vá lá:



É que não está sendo fácil, meus amigos. Não está sendo fácil viver assim. A Malu está no ápice do salto de desenvolvimento mais longo e doloroso que pode existir na face da Terra. Um calvário bebezístico. Na verdade, ela engatou crise dos 3 meses com salto dos 4 meses e meio e o furdunço ficou feito. Feito e feio. Bem feio. 

Tá, Naruna. Já entendemos que a coisa deu ruim por aí, mas o que diabos é esse salto de desenvolvimento? Basicamente é uma fase em que o bebê ganha novas habilidades e fica meio (totalmente) obcecado com aquilo. Tão obcecado que quer ficar fazendo over over and over again. Dormir pra que se ele pode, sei lá, abrir e fechar as mãos? Como consequência, vocês imaginam...batalha árdua para dormir, soneca mal tirada e um humor de fazer inveja a qualquer bipolar. 

To fazendo gracinha pra desanuviar, mas o assunto merece atenção. Isso porque pode ser confundido com outras coisas, tipo mãe achar que o bebê tem fome, que são cólicas e afins, quando ele só está crescendo. E crescer dói, né? Para entenderem melhor sobre o assunto, deem uma lidinha aqui.

Mas ok, voltando ao estudo de caso, meu caso. Depois que eu fiz aquele post sobre o sono, no dia exato para ser bem dramática, a Malu endoidou com o sono da noite. Endoidou bonito. Quando ela deveria estar entrando em sono profundo, despertou do NADA e começou a chorar. Chorou, chorou, chorou e depois, ploft, dormiu. Como eu tinha mencionado no post, são alterações de sono. Acontecem. De boa. Beleza. Só que depois daquela noite, nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Viemos num processo de "desevolução" constante do sono que culminou com a atual situação: zero sono de dia, zero sono de noite. Com muita batalha, as sonecas do dia duram 20 minutos, às vezes meia hora. À noite, depois da rotina, ela cai no sono por uma hora e depois é um tal de mamar eterno. Mamar, mamar, mamar como se não houvesse amanhã. Tínhamos adotado a cama compartilhada estendida já (nós na cama grande e ela na caminha dela, sem a grade lateral, colada na nossa), tivemos que retroceder à cama compartilhada normal por duas razões: dou de mamar deitada pelo menos para descansar as costas e ela simplesmente não aceita ficar no seu canto sozinha, não interessa se é ali do lado. Então, estamos assim: José no canto dele entrevado, eu no meio bem entrevada e Malu na ponta num mix de agitação sonâmbula e contentamento por não estar sozinha. Ela tem dormido com o peito na boca. Sério. Peito na boca e mão agarrando meu pijama. Se eu me afasto um pouquinho pra tentar relaxar o braço ou ela acorda ou vem se arrastando com a cabeça (???????????) até encostar em mim de novo.

Agora quiséramos nós, o problema fosse só o sono. Quiséééééramos. Ela tem umas alterações bruscas de humor. Em um segundo estamos aqui lindamente brincando, sendo felizes. No segundo seguinte, chororô incrível sabe-se lá porque. Antes de chorar muito, ela aprendeu a gritar. Aí sempre rola a dúvida se o grito é uma verbalização primitiva de desejos não muito bem coordenados ou se vem zanga por aí. Nos dias mais críticos, ela não quer colo, não quer carrinho, não quer sling, não quer deitar de barriga pra cima, nem de barriga pra baixo, nem nada. Não anda muito afeita a brinquedos também. Duas coisas que ainda a entretém por um tempo são a Meg e a nossa cara. Ambas sempre tentando ser alcançadas por uns dedinhos cheios de baba. 

Estranha completamente as pessoas, exceto eu e o pai. Não quer nem saber dos outros. Não chegue junto, não fale perto, não faça contato visual. Ela bota logo a garganta no mundo! Começa a fazer aquele biquinho, as pessoas acham lindimais, falam ainda mais com ela e o resultado: UNHÉÉÉÉÉÉÉÉÉ! Só calará no peito. Ah o peito! Tenho impressão que ela olha pra mim e vê um peitão gigante (o que é quase verdade). Se recusa também a ficar no carrinho enquanto fazemos as refeições. Gosta de sentar no colo e observar o movimento dos copos, talheres, bocas. As mãos são um capítulo à parte. Ela está absolutamente maravilhada com seus dedinhos de salsicha. Encantada. Olha tanto pra elas que até fica vesga. Os pés ainda são só um detalhe curioso.

Meudeus, mas que coisa linda é essa que eu to vendo aqui? Ela se mexe!


Então, definitivamente, isto é um salto. O primeiro que eu soube reconhecer. Até porque, né, com essa agressividade toda, quem não reconheceria? Daí que eu tenho andado bem acabadinha, contando até 10 várias vezes, pedindo forças aos orixás, repetindo o mantra materno (Vai passar, vai passar). Já me senti bem menas por faltar a paciência alguns momentos. Já afundei minha cara no travesseiro e me perguntei: tanto bebê no mundo, por que logo o meu não dorme? Tentei banho de chuveiro, levar pra cama mais cedo, levar mais tarde, tirar soneca, botar soneca. Nada funciona e creio que não vá funcionar. O que me consola é que, pelas minhas contas, já vamos em quase 4 semanas de terror. Se o salto dura entre 4 e 6, logo deve passar (logo = mais umas duas semanas. senta e chora).

Daí que a lição de hoje é: não postar se achando a espertinha porque não há batalha vencida nessa coisa de maternagem. Não na minha maternagem.

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Tá todo mundo engravidando, gente! Que lindo! Também quero! (Brincadeira, mãe)
Parabéns, Talita! O em breve vai ser muito em breve mesmo.